1️⃣ O que é ser surdo?
Ser surdo não é apenas não ouvir. É pertencer a um universo linguístico e cultural próprio, onde a comunicação é visual, o pensamento é estruturado de forma diferente e a identidade vai muito além da deficiência.
📌 Algumas pessoas nascem surdas, outras tornam-se ao longo da vida. Algumas usam aparelhos auditivos, outras não. Algumas fazem leitura labial, outras não. Algumas usam a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como primeira língua, enquanto outras são alfabetizadas apenas em português.
A questão não é o que falta, mas como a sociedade enxerga essa experiência e se adapta (ou não) a ela.
2️⃣ Como a história moldou a exclusão dos surdos
A exclusão das pessoas surdas não é uma consequência natural da surdez, mas uma construção social.
🔹 Antes do século XIX → Surdos eram vistos como incapazes de aprender e participar da sociedade. Muitos eram trancados em casa ou internados em instituições.
🔹 1880 | Congresso de Milão → Um dos momentos mais cruéis da história. Línguas de sinais foram proibidas nas escolas, e o oralismo (obrigar surdos a falarem e lerem lábios) foi imposto como única forma válida de comunicação.
🔹 O século XX e a resistência surda → Mesmo com a proibição, comunidades surdas resistiram e continuaram a usar a língua de sinais. Mas até hoje, muitos surdos sofrem pressão para se encaixarem no mundo ouvinte.
🔹 Hoje → Ainda há muitas barreiras. Educação sem intérpretes, mercado de trabalho excludente, dificuldades para acessar serviços básicos. O mundo continua sendo feito para quem ouve.
3️⃣ Mitos sobre pessoas surdas
📢 1. “Todo surdo sabe ler lábios”
Falso. Apenas 30% dos fonemas da língua portuguesa são visíveis na leitura labial. O resto precisa ser interpretado pelo contexto, o que torna essa prática cansativa e imprecisa.
📢 2. “Todo surdo sabe Libras”
Falso. Muitos surdos cresceram em famílias que não aprenderam Libras, sendo privados da própria língua. Outros foram forçados a se comunicar apenas oralmente.
📢 3. “Se colocar um aparelho, resolve”
Falso. Nem todo surdo pode ou quer usar aparelho auditivo ou implante coclear. Além disso, aparelhos amplificam sons, mas não garantem compreensão perfeita.
📢 4. “Surdos são mudos”
Falso. Pessoas surdas têm voz. Algumas preferem usá-la, outras não. O termo “surdo-mudo” é ultrapassado e desrespeitoso.
📢 5. “Libras é um português sinalizado”
Falso. Libras tem estrutura gramatical própria, com regras diferentes do português. Não é um código visual do idioma falado.
📢 6. “É só falar mais alto que o surdo entende.”
Falso. Falar alto não muda nada para quem não escuta. A comunicação precisa ser feita visualmente, e não com volume.
4️⃣ Como é ser surdo no dia a dia?
📍 Na escola → Professores falam de costas, não há intérpretes suficientes, conteúdos audiovisuais raramente têm legendas ou acessibilidade.
📍 No trabalho → Dificuldade em conseguir vagas, falta de acessibilidade nas reuniões, ambientes ruidosos que dificultam a leitura labial.
📍 Na saúde → Consultas médicas sem intérprete, onde o surdo depende de bilhetes escritos ou de familiares para se comunicar.
📍 Na vida social → Falta de legendas em filmes, música sendo usada como único meio de ambientação, grupos de amigos que esquecem de incluir a comunicação visual.
O Que Precisamos Mudar?
A acessibilidade não deve ser um favor. Deve ser um direito. Algumas mudanças urgentes são:
📌 Ensino de Libras para ouvintes → Se todos aprendessem Libras na escola, a barreira de comunicação seria muito menor.
📌 Mais legendas e intérpretes → Todo conteúdo audiovisual deveria ser acessível.
📌 Mudança na forma como ouvintes enxergam a surdez → Deixar de ver surdos como “coitados” ou como pessoas que precisam ser consertadas.
📌 Espaços adaptados → Alertas visuais em ambientes públicos, atendimento em Libras, materiais acessíveis.
O primeiro passo para a mudança é ouvir (ou melhor, enxergar) a comunidade surda e suas demandas.
Como É A Vida Sem O Som? A Eexperiência Surda Na Percepção Do Mundo
Se tu nunca paraste para pensar em como o som molda a tua vida, experimenta fechar os olhos por um momento e ouvir o ambiente ao teu redor. O barulho dos carros passando, a voz de alguém ao fundo, o tic-tac do relógio, um pássaro cantando lá fora. Agora, imagina se nenhum desses sons fizesse parte da tua existência.
Isso não significa que a vida seria vazia ou silenciosa. O silêncio absoluto não existe, nem para os surdos. O mundo continua cheio de vibrações, de movimento, de imagens que contam histórias. Mas o que muda é a forma como se percebe a vida.
1️⃣ Como Um Surdo Vive Sem O Som?
Para quem ouve, o som é referência. Para quem não ouve, o mundo se traduz em outra lógica.
📌 Os sons não desaparecem, se transformam.
O impacto de um trovão é percebido pelo tremor das janelas. Uma buzina é sentida pela vibração no chão. Uma porta batendo é captada pelo deslocamento de ar. O que para ti chega como som, para um surdo chega como sensação, imagem, luz, sombra e vibração.
📌 A visão é o guia principal.
Ouvintes costumam confiar no som para saber quando alguém está atrás, quando alguém os chama, quando algo está prestes a acontecer. Para um surdo, tudo está nos olhos.
📌 O tato se torna um aliado.
Sentir o pulsar da batida de uma música nos pés descalços, perceber a mudança do vento na pele, captar uma vibração no corpo como aviso de que algo aconteceu.
📌 A comunicação é visual.
Enquanto ouvintes falam sem precisar olhar nos olhos, pessoas surdas se comunicam pela expressão facial, pelo corpo, pelo contato visual direto. Isso torna a comunicação mais presente, mais genuína.
2️⃣ A Música Sem O Som
Para um ouvinte, a música é um canal direto para a emoção. Um som pode trazer nostalgia, aumentar a energia, aliviar uma dor. Mas como um surdo se conecta com a música, se ela não é feita para ser vista, mas ouvida?
📌 A música não é só som.
Ela é vibração, ritmo, movimento. Para muitos surdos, a experiência musical vem pelo corpo, não pelos ouvidos.
🔹 A batida do grave → Pode ser sentida através das vibrações.
🔹 A intensidade da melodia → Pode ser traduzida visualmente em luzes, em cores.
🔹 A expressão do cantor → Pode transmitir emoção, assim como a linguagem de sinais.
🔹 O movimento da dança → O corpo se torna instrumento de ritmo e expressão.
📌 Surdos dançam?
Sim. Muitos dançam não pelo que ouvem, mas pelo que sentem no chão, no peito, na pele. A vibração se torna a batida interna.
📌 E as letras das músicas?
Muitos surdos acompanham músicas através da interpretação em Libras. O ritmo das mãos, as expressões do rosto e os gestos corporais recriam a emoção da música sem precisar de som.
📌 A música visual
Algumas músicas são transformadas em experiências visuais, onde cores, luzes e formas se movem no ritmo da melodia. A música, nesse caso, não é apenas ouvida, mas vista e sentida.
3️⃣ O Que Um Mundo Sem Som Ensina Para Os Ouvintes?
Se tudo ao nosso redor fosse pensado para a percepção surda, como os ouvintes viveriam?
🔹 Mais presença na comunicação → Não daria para conversar enquanto olha para o celular. A atenção ao outro seria plena.
🔹 Mais contato visual → O olhar se tornaria ferramenta essencial de expressão e conexão.
🔹 Mais sensibilidade tátil → O mundo se tornaria mais físico, mais palpável.
🔹 Menos distração sonora → O ambiente seria mais calmo, sem ruídos desnecessários, permitindo foco e tranquilidade.
🔹 Novas formas de se expressar → Palavras não seriam a única maneira de demonstrar sentimentos.
E se a gente experimentasse, pelo menos por um dia, enxergar o mundo sem depender do som?
Talvez a gente descubra que ouvir não é o único jeito de sentir a vida.
SER SURDO É UMA FORMA DE SER HUMANO, NÃO UM PROBLEMA A SER RESOLVIDO
A sociedade ensina que ser surdo é um problema. Mas e se, em vez de tentar corrigir, a gente aprendesse a enxergar o mundo de outra forma?
O que os ouvintes chamam de “deficiência” é, na verdade, uma outra maneira de perceber a vida.
📢 Se tu és ouvinte, já tentaste imaginar o mundo sem som? Como seria a tua comunicação? Como tu perceberias o tempo, as emoções, os perigos?
📢 Se tu és surdo, qual é a coisa mais poderosa que gostarias que ouvintes entendessem sobre a tua realidade?
A surdez não é uma barreira. A falta de acessibilidade é.
Se queremos um mundo mais humano, precisamos começar enxergando além do nosso próprio universo.
Um ponto de partida
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