“O mundo grita, e eu escuto tudo ao mesmo tempo.
As luzes piscam, e eu vejo cada detalhe.
O toque arde, e eu sinto como se fosse fogo.
Mas o que me faz diferente não é um erro, é apenas outra forma de ser humano.”
O autismo não é uma doença. Não é um defeito. Não é um erro. O autismo é apenas uma forma diferente de experimentar o mundo.
Mas a sociedade ainda enxerga o autismo como um problema, como algo a ser corrigido.
As pessoas autistas não são acolhidas pelo mundo tal como ele é.
Pelo contrário, são forçadas a se adaptar a um sistema que não foi feito para elas, o tempo todo.
Então, como é ser autista num mundo feito para neurotípicos?
1. O Que Significa Ser Autista?
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) não é uma única coisa. O autismo não tem uma única forma, um único rosto, um único comportamento.
Cada pessoa autista é única, com suas próprias forças, dificuldades e formas de ver o mundo. Mas há algumas características comuns, como:
- Sensibilidade sensorial intensa → Sons, cheiros, luzes e toques podem ser extremamente incômodos.
- Dificuldade com comunicação social → Interações podem ser confusas, cansativas ou até dolorosas.
- Interesses intensos e profundos → Um assunto pode se tornar um mundo inteiro para explorar.
- Necessidade de rotina e previsibilidade → Mudanças bruscas podem ser difíceis de lidar.
O problema não é o autismo.
O problema é o mundo, que não compreende essas diferenças e insiste em chamar de “erro” aquilo que simplesmente é outro jeito de ser genuinamente humano.
2. A História da Marginalização | Como Nos Fizeram Invisíveis
Por muito tempo, pessoas autistas foram mal compreendidas, rotuladas de “esquisitas”, “frias”, “difíceis”.
- Antes do século XX → Muitas crianças autistas eram consideradas “possuídas”, “selvagens” ou “incorrigíveis”. Eram trancadas em manicômios ou abandonadas.
- Décadas de 1940 a 1960 → Surgiu a teoria da “mãe geladeira”, que culpava as mães por não darem amor suficiente aos filhos autistas (um mito absurdo, mas que prejudicou gerações inteiras).
- Década de 1980 em diante → O autismo começou a ser estudado de forma mais ampla, mas ainda era visto como um distúrbio grave que precisava ser corrigido.
- Hoje → Muitas pessoas autistas ainda enfrentam discriminação, falta de acessibilidade e a pressão constante para “parecerem normais”.
A luta das pessoas autistas não é por cura, porque não há nada de errado nelas. A luta é por respeito, por aceitação, por um mundo onde possam existir sem precisar se esconder.
3. O Mundo Vê o Autismo Como Um Problema
A sociedade construiu muitos mitos sobre o autismo, distorcendo e apagando a realidade dessas pessoas. Aqui estão alguns dos mais comuns:
1. “Pessoas autistas não sentem emoções.”
Por que é um mito?
Autistas sentem tudo – muitas vezes até mais intensamente que neurotípicos. O que pode acontecer é que expressam suas emoções de maneiras diferentes.
2. “Todo autista é um gênio como no filme Rain Man.”
Por que é um mito?
Existem autistas com habilidades excepcionais, mas isso não define o autismo. Muitos enfrentam dificuldades diárias em áreas que passam despercebidas para neurotípicos.
3. “Autistas vivem no próprio mundo e não querem amigos.”
Por que é um mito?
Pessoas autistas querem conexões, mas as regras sociais impostas pelo mundo são confusas para elas. A dificuldade está no código social, não na vontade de se conectar.
4. “Autismo tem cura.”
Por que é um mito?
O autismo não é uma doença, então não precisa de cura. O que as pessoas autistas precisam é de respeito, suporte e um mundo menos agressivo para elas.
4. Como É Ser Autista no Mundo Real?
O mundo foi feito para neurotípicos. Pessoas autistas vivem diariamente desafios que a maioria das pessoas nem imagina.
📌 Na escola:
O barulho da sala de aula pode ser insuportável.
A luz fluorescente pode parecer um holofote na cara.
Professores acham que autistas não prestam atenção só porque não fazem contato visual.
📌 No trabalho:
Reuniões intermináveis, exigências sociais, sobrecarga sensorial…
O ambiente profissional geralmente é hostil para autistas.
📌 Nas relações sociais:
Conversas podem parecer códigos indecifráveis.
“O que essa pessoa quis dizer com isso? Era sério ou ironia?”
📌 No dia a dia:
Ir ao mercado pode ser um pesadelo. Luzes piscando, sons altos, um milhão de informações ao mesmo tempo.
📌 No relacionamento consigo mesmo:
Desde pequenos, autistas são ensinados a se moldar ao que o mundo espera.
Aprendem que suas necessidades são incômodas, que suas formas de expressar alegria ou desconforto precisam ser reprimidas.
O resultado? Exaustão, ansiedade, depressão.
Porque viver o tempo todo tentando ser algo que não é… é devastador.
5. Como Construir um Mundo Mais Humano para Autistas?
Não é o autismo que precisa mudar. É o mundo.
1. Aceitação, e não apenas tolerância.
Pessoas autistas não precisam “se encaixar”. O mundo precisa abrir espaço para que possam ser quem são.
2. Ambientes mais acessíveis.
Locais mais silenciosos, iluminação menos agressiva, menos estímulos visuais confusos.
3. Comunicação clara e objetiva.
Sem jogos sociais complicados, sem expectativas implícitas. Só clareza e respeito.
4. Respeito ao ritmo e às necessidades de cada um.
Parar de forçar pessoas autistas a se “socializarem” conforme o padrão neurotípico. Cada um se conecta à sua maneira.
O primeiro passo? Ouvir e acreditar no que pessoas autistas dizem sobre suas próprias experiências.
📢 Reflexão Final
Ser autista não é viver no próprio mundo.
É viver num mundo que se recusa a te enxergar como tu és.
- Mas e se o mundo fosse diferente?
Agora que já exploramos a realidade autista, como seria um mundo realmente pensado para eles?
⏩ No próximo texto, vamos construir esse mundo juntos.
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