No Coreto


(Som de folhas secas no chão. A pracinha já foi ocupada por silêncios e bilhetes. Agora é noite. Luz amarelada. Alguém sobe os dois degraus de madeira do coreto. Tosse. Segura o papel. Lê:)

“Não vou mais fingir que não dói.
Dói.

Me esforço pra parecer leve, forte, resolvidx.

Mas a verdade?
Eu só tô tentando não sumir.”

(Alguém lá embaixo murmura “fala, fala mesmo”. A pessoa respira fundo, continua:)

“Fiquei com vergonha por muito tempo de estar cansadx.

Como se cansar fosse fraqueza.

Mas hoje eu percebi:
Quem sente, também cansa.
E tudo bem.”

(Uma salva de palmas tímida. Outra mais firme. A voz começa a ganhar corpo. Agora o coreto é dela.)

“Não é sobre ser exemplo. É sobre ser de verdade.

E a verdade é que eu quase desisti.
Mas tô aqui.

Com medo, mas tô.

E se tiver mais alguém sentindo parecido…
então a gente não tá tão sozinhx assim, né?”



Esta página pertence ao blog CoHerência.
Todos os direitos reservados.

Deixe um comentário