O Não e o Sim: A Vida Sendo Vivida

Texto 15 de 15 | Espaço de Permanência


Tu voltaste para tua vida. O refúgio agora parece um sonho distante, mas as lições que aprendeste continuam vivas em cada pensamento, cada decisão, cada olhar que lanças ao mundo ao teu redor. Trabalhas na mesma construtora de antes – aquela onde passavas os dias atendendo pessoas, respondendo e-mails e participando de reuniões que não faziam sentido. Mas algo mudou.

Não foi o trabalho, foi tua percepção. Agora, tu vês o potencial que antes ignoravas. Tu sabes que este lugar, esta construtora, pode ser mais do que é hoje. E tu tens uma ideia – uma ideia que nasceu no refúgio, uma visão que pode revolucionar a maneira como o mercado imobiliário enxerga a construção.

Hoje é o dia. Tu estás prestes a apresentar teu projeto para a diretoria e os acionistas da empresa. Teu coração bate rápido, mas não é medo. É expectativa. Porque tu sabes que tua ideia faz sentido – não só para ti, mas para o mundo.


A Proposta de Um Novo Modelo

A sala de reuniões é ampla, moderna e impessoal. A mesa de vidro reflete a luz fria dos painéis de LED, enquanto os acionistas, sentados em cadeiras de couro, te observam com uma mistura de curiosidade e ceticismo.

Tu respiras fundo, ajustas os papéis em tuas mãos e começas:
“Senhoras e senhores, agradeço pela oportunidade de estar aqui hoje. O que estou prestes a apresentar não é apenas um projeto de construção. É um novo modelo de convivência, sustentabilidade e inclusão – algo que pode redefinir a forma como vemos o mercado imobiliário.”

Tu clicas no controle remoto, e o primeiro slide aparece na tela: uma visão geral de um condomínio. Mas não é um condomínio comum. É um lugar projetado para acolher a diversidade humana em todas as suas formas.


Os Pontos-Chave do Projeto

Tu explicas cada detalhe, com uma clareza que surpreende até a ti mesmo:

  • Modelo Inclusivo: “Este projeto foi desenhado para atender as necessidades de diferentes comunidades – pessoas com deficiência, idosos, famílias diversas, minorias étnicas e culturais, e tantas outras. Cada espaço foi pensado para que todos possam viver com dignidade e conforto.”

  • Sustentabilidade Econômica e Social: “Os próprios moradores poderão contribuir para o funcionamento do condomínio, gerando renda interna e reduzindo custos operacionais. Jardins, segurança, limpeza, aulas – tudo pode ser feito por quem vive ali, criando um ciclo sustentável e inclusivo.”

  • Impacto no Mercado: “Esse modelo não é apenas ético, é também lucrativo. Pesquisas mostram que consumidores estão cada vez mais buscando opções alinhadas com valores humanos e ambientais. Este projeto posicionará nossa empresa como pioneira nesse movimento.”

Tu percebes que alguns acionistas começam a murmurar entre si. Outros ainda mantêm expressões neutras. Mas tu continuas, trazendo números, gráficos e exemplos de como o projeto pode gerar retorno financeiro sem comprometer sua essência humana.


A Negativa Esperada

Quando terminas, a sala fica em silêncio por alguns segundos. Então, o diretor executivo toma a palavra:
“Uma apresentação impressionante, sem dúvida. Mas precisamos ser realistas. Nosso foco é o lucro, e este projeto, embora interessante, apresenta riscos consideráveis. Não é algo que podemos implementar neste momento.”

Outros acionistas concordam, alguns com palavras de cortesia, outros com sorrisos que mal escondem o desdém. A reunião é encerrada, e todos começam a se levantar.

Tu permaneces sentado, olhando para os slides na tela. Sentes uma mistura de frustração e determinação. Não importa o que disseram, tu sabes que tua ideia tem valor.


O Encontro Inesperado

Enquanto todos deixam a sala, um homem que tu não havias notado antes se aproxima. Ele é mais velho, com cabelos grisalhos bem penteados e um olhar que exala autoridade.

“Posso falar contigo um momento?” ele pergunta.

Tu te levantas, surpreso, e ele se apresenta:
“Meu nome é Arthur Almeida. Sou acionista majoritário da Spartacus, uma construtora que talvez já tenhas ouvido falar.”

Tu conheces o nome. A Spartacus é uma das maiores e mais prestigiadas construtoras do país, conhecida por seus projetos luxuosos e inovadores.

“Gostei muito da tua apresentação,” Arthur continua. “Tua visão é ousada, mas tem substância. Quero que apresentes esse projeto para minha equipe. Temos uma reunião na próxima semana, e acredito que tua ideia pode encontrar um lar na Spartacus.”

Tu olhas para ele, incrédulo, mas rapidamente te recuperas e aceitas o convite.


A Apresentação na Spartacus

Na semana seguinte, tu estás na sede da Spartacus, em uma sala de reuniões ainda mais imponente que a anterior. Arthur está presente, junto com outros executivos e membros da equipe.

Tu apresentas teu projeto novamente, desta vez com ainda mais confiança. Cada ponto, cada detalhe é recebido com atenção e interesse. Quando terminas, a sala explode em aplausos.

Arthur se levanta e diz:
“Estamos dentro. Este projeto será nossa próxima grande iniciativa. E quero que tu estejas à frente dele.”

Tu sentes uma onda de emoção, mas antes que possas responder, um som vindo de fora da sala interrompe o momento. É como se alguém estivesse tentando abrir a porta.


O Simbolismo do Encontro

Um segurança se aproxima e informa:
“É um ex-funcionário. Ele perdeu tudo recentemente e quer falar com alguém sobre uma nova ideia.”

Tu olhas para Arthur, que faz um gesto para que o homem seja deixado entrar. Ele está visivelmente nervoso, com roupas simples e um olhar desesperado.

Enquanto ele começa a falar sobre o projeto, tu percebes algo: ele é um reflexo do que tu eras antes de encontrar teu propósito.

E naquele momento, tu compreendes que tua jornada não é apenas sobre construir prédios ou espaços inclusivos. É sobre abrir portas – para ti mesmo e para os outros.


A Porta Sempre Aberta

Enquanto a reunião termina, tu sentes que algo maior está apenas começando. Tua ideia, tua arte, agora tem um espaço para florescer. E, mais importante, tu percebes que tua missão não é apenas criar espaços para viver, mas também criar oportunidades para que outros encontrem suas próprias portas.


Porque ser genuinamente humano é reconhecer que, ao abrir caminho para tua essência, tu também abres caminho para que outros descubram a deles.

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