O Propósito Revelado: Construir para o Humano

Capítulo 14 de 15 | Espaço de Permanência

Tu acordas no refúgio com uma sensação de clareza inédita. Pela primeira vez, tudo o que viveste neste lugar começa a se alinhar. É como se cada aprendizado, cada reflexão, fosse uma peça de um quebra-cabeça que agora finalmente está completo.

Ao sair, o Anfitrião te aguarda em uma clareira. Ele está ao lado de uma mesa com ferramentas e uma grande maquete que ainda não está finalizada. Ao te ver, ele aponta para a maquete e pergunta:
“Tu sabes o que isso representa?”

Tu olhas para a maquete com atenção. É um pequeno condomínio com várias casas, jardins, espaços comunitários e acessos amplos. Tu percebes que algo dentro de ti desperta ao observá-la.

“Sim,” tu dizes, após um momento. “Representa o que quero construir. Não apenas prédios ou casas, mas espaços onde cada pessoa, independente de quem seja ou de onde venha, possa se sentir acolhida, conectada e valorizada.”


A Visão do Tu: Construir para Todos

O Anfitrião cruza os braços e te observa, como se esperasse mais. Ele finalmente pergunta:
“E como tu pretendes fazer isso? Como será esse lugar que acolhe o humano em toda a sua diversidade?”

Tu respiras fundo e começas a falar, com a segurança de quem finalmente encontrou seu propósito:
“Primeiro, quero que cada espaço reflita as necessidades específicas das pessoas que o ocuparão. Isso significa que cada detalhe deve ser pensado para que elas se sintam vistas, respeitadas e incluídas. Aqui está como eu imagino isso:


1. Para Pessoas com Deficiência Física:

Acessibilidade total: Rampas suaves, portas largas e elevadores em todos os espaços.

Espaços adaptados: Cozinhas, banheiros e áreas comuns projetados para cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida.

Áreas de convivência horizontal: Priorizarei ambientes em que tudo esteja no mesmo nível, evitando escadas sempre que possível.


2. Para Pessoas com Deficiência Intelectual:

Sinalização clara e intuitiva: Cores, símbolos e mapas simples para facilitar a navegação.

Espaços tranquilos: Locais reservados para descanso sensorial, onde possam se sentir seguros e confortáveis.

Atividades inclusivas: Espaços para oficinas e interações que valorizem suas habilidades e promovam conexões.


3. Para Pessoas Trans e LGBTQIA+:

Segurança e respeito: Espaços livres de discriminação, com políticas claras de proteção e acolhimento.

Banheiros neutros: Banheiros comunitários inclusivos, que respeitem a identidade de gênero de cada pessoa.

Comunidade vibrante: Áreas para eventos, discussões e celebrações que reforcem a importância da diversidade.


4. Para Pessoas de Rua:

Reintegração digna: Casas temporárias dentro do condomínio, oferecendo moradia enquanto recebem suporte para se reerguer.

Espaços de aprendizado: Oficinas para desenvolver habilidades e se reconectar com o mercado de trabalho.

Ambientes comunitários: Jardins e áreas de convivência que promovam interações com outros moradores.


5. Para TDAH:

Ambientes organizados: Espaços que minimizem distrações, com áreas tranquilas para concentração e espaços abertos para atividades.

Horários flexíveis: Zonas de coworking e estudos que respeitem diferentes ritmos.

Design que inspira: Uso de cores e formas que estimulem a criatividade sem sobrecarregar.


6. Para Negros e Nordestinos:

Celebrando a ancestralidade: Espaços culturais dedicados à valorização de suas histórias, tradições e conquistas.

Representatividade: Contratar arquitetos, artistas e designers dessas comunidades para refletir sua identidade no projeto.

Ambientes para troca: Mercados comunitários e eventos culturais que promovam orgulho e pertencimento.


7. Para Obesos:

Conforto em cada detalhe: Móveis projetados para acomodar corpos maiores com segurança e conforto.

Inclusão nas atividades: Academias e áreas de recreação que promovam bem-estar sem estigmatização.

Respeito à diversidade: Espaços que incentivem a autoestima e combatam padrões irreais de beleza.


8. Para Indígenas:

Conexão com a natureza: Espaços que respeitem a harmonia com o meio ambiente, com áreas verdes preservadas e cultivadas.

Sabedoria ancestral: Locais para ensinar e aprender sobre práticas tradicionais e sustentáveis.

Valorização cultural: Obras de arte e arquitetura inspiradas em sua cultura e histórias.


Um Modelo Sustentável e Inclusivo

Tu olhas para o Anfitrião, como se uma nova ideia tivesse acabado de tomar forma em tua mente.

“Mas isso não é apenas sobre acolher. É também sobre oferecer dignidade. Quero que este lugar seja mais do que um lar. Quero que ele seja uma oportunidade para quem precisa construir uma vida nova.”

O Anfitrião te observa atentamente enquanto tu explicas:
“Em vez de contratar pessoas de fora para cuidar do jardim, da limpeza, da portaria ou das aulas comunitárias, por que não contratar as pessoas que moram aqui? Cada um tem uma habilidade que pode ser aproveitada.

E o mais importante: todos receberiam o mesmo piso salarial que qualquer profissional contratado externamente. Assim, damos a eles não só renda, mas dignidade e reconhecimento.”


Uma Comunidade Guiada por Todos

Tu percebes, então, que falta algo essencial: a participação ativa de todos.
“Para que esse espaço funcione de verdade, quero criar um sistema de governança comunitária. Assim, todos os moradores terão voz nas decisões importantes.

Podemos ter reuniões mensais para discutir melhorias, resolver problemas e até votar em ideias que beneficiem a comunidade. Cada minoria – pessoas com deficiência, negros, LGBTQIA+, indígenas – terá espaço para expressar suas necessidades. Quero que todos se sintam ouvidos.”

O Anfitrião sorri e diz:
“Tu não estás apenas criando um lugar. Estás criando uma comunidade viva, onde cada pessoa contribui e cresce.”


A Última Provocação

Quando tu achas que a conversa está concluída, o Anfitrião faz uma pausa e te observa. Ele pega uma folha de papel dobrada e te entrega. Dentro dela, estão escritas as tuas próprias palavras, aquelas que disseste ao chegar no refúgio pela primeira vez:
“Estou vivendo numa correria tremenda. Meu trabalho não traz significado nenhum. Eu atendo pessoas, respondo e-mails, participo de reuniões… Mas não vejo sentido em nada disso.”

Ele coloca uma mão em teu ombro e pergunta:
“E agora? O que mudou?”

Tu lês aquelas palavras com cuidado, sentindo como se pertencessem a outra pessoa. Levantas o olhar e respondes, com uma convicção que nunca havias sentido antes:
“Agora, percebo que o problema nunca foi o meu trabalho, mas o que eu não conseguia enxergar nele.

Eu achava que aquilo não era para mim, mas era apenas porque eu não estava pronto para colocar minha arte no que fazia. Agora eu sei quem sou e o que quero construir. E mais do que isso: sei como levar minha ideia para o mundo. Estou pronto para expressar minha essência, e sei que isso vai estrondar. Não porque quero ser reconhecido, mas porque faz sentido – para mim e para os outros.”

O Anfitrião sorri, satisfeito, e conclui:
“Então vai. Teu propósito te espera, e o mundo precisa de tudo o que tens a oferecer.”


Um Propósito em Construção

Enquanto caminhas de volta ao teu quarto, carregando a maquete na mente e as palavras do Anfitrião no coração, tu percebes que cada peça que viveste neste refúgio te trouxe até aqui. Não se trata apenas de construir prédios, mas de criar um lugar onde o humano floresça em sua plenitude – contribuindo, crescendo e pertencendo.

Porque ser genuinamente humano é encontrar formas de fazer com que cada pessoa tenha seu lugar, sua voz e sua dignidade.


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