A Primeira Conversa com Jurema

Capítulo 7 de 26 | Espaço de Partida


Pelo quê a gente luta

Após dias de frustração e silêncio, Paulo se isolou ainda mais. Ele saía cedo, voltava tarde e evitava qualquer interação com os moradores do cortiço. Para ele, era um lugar de passagem, e quanto menos contato tivesse com as pessoas dali, melhor.

No entanto, naquela tarde, algo o fez parar. No pequeno pátio, entre risadas de crianças e o som de uma panela batendo na cozinha comunitária, uma voz firme se destacou.

— A gente não luta só por nós mesmos. A gente luta porque ninguém deveria passar pelo que a gente passou.

Paulo olhou na direção do som. Uma mulher negra, de cabelos grisalhos presos em um coque apertado, falava para um pequeno grupo de jovens sentados ao seu redor.


Encontro com Jurema

Curioso, Paulo se aproximou discretamente, fingindo ajustar algo em sua camisa. Jurema percebeu e, sem hesitar, o chamou:

— Está procurando alguma coisa, moço?

Ele hesitou.
— Só… ouvi a conversa. Não quis atrapalhar.

— Então venha ouvir direito. Aqui, ninguém atrapalha.

Constrangido, Paulo sentou-se no limite do grupo, tentando não chamar atenção. Jurema continuou a falar, explicando como havia crescido em uma comunidade pobre, enfrentando preconceito e barreiras constantes, mas nunca desistira de estudar e lutar por justiça social.


A Conversa

Depois que os jovens se dispersaram, Paulo permaneceu sentado. Jurema se aproximou com duas canecas de café.

— Gostou da história? — Ela perguntou, entregando uma a ele.

— É… interessante. — Paulo respondeu, tentando soar desinteressado.

Jurema riu.
— Interessante é o que a gente diz quando não quer admitir que foi tocado por algo.

Ele desviou o olhar, mas Jurema continuou:
— Você acha que perdeu tudo, não é? Mas olha ao seu redor. Tem gente aqui que nunca teve o que você perdeu.

— Não é tão simples assim. — Ele rebateu. — Eu trabalhei duro para chegar onde cheguei.

— E você acha que a gente não? — Jurema retrucou, com firmeza, mas sem hostilidade. — A diferença é que o sistema foi feito para te empurrar pra cima e pra me manter no chão.

Paulo ficou em silêncio, digerindo as palavras.

Ao voltar para o quarto, ele se depara com uma carta de Gal dizendo a ele que ela precisava de um tempo. Pede para que ele se cuidasse que ela iria fazer o mesmo.


A Semente da Reflexão

Naquela noite, as palavras de Gal e de Jurema não saíram da mente de Paulo. Ele começou a se perguntar se sua queda era realmente só culpa dos outros ou se havia algo maior em jogo. Pela primeira vez, ele percebeu que sua visão de mundo poderia estar limitada – mas ainda não sabia o que fazer com isso.


Reflexão Final

Enquanto Jurema limpava as mesas no pátio, ela o observava pela janela do quarto. “Vai levar tempo”, pensou. Mas, como sempre dizia aos jovens a quem ensinava: todo aprendizado começa com uma pergunta.

Próximos passos no capítulo:
Jurema começará a ser uma figura que desafia Paulo a enxergar além de si mesmo, plantando sementes de empatia e percepção sobre privilégios e lutas coletivas.


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