Capítulo 13 de 26 | Espaço de Partida
Era uma manhã clara no cortiço, com o cheiro da chuva da noite anterior ainda pairando no ar. Paulo, após a conversa com Clara, sentia uma inquietação nova. Ele precisava de respostas, mas, mais do que isso, precisava de algo para fazer. Algo que o ajudasse a preencher o vazio que vinha carregando.
Enquanto caminhava pelo pátio, notou Amaru, o jovem indígena que morava no andar de baixo, ajoelhado na terra, cercado por pequenos vasos e mudas. A cena o intrigou.
— O que está fazendo? — perguntou, aproximando-se com curiosidade.
Amaru ergueu os olhos e sorriu de forma tranquila.
— Plantando.
— Plantando o quê? — Paulo olhou para os vasos, tentando identificar as mudas.
— Vida, Paulo. Plantando vida.
O Convite para Aprender
Amaru se levantou, limpando as mãos na calça.
— Quer tentar?
Paulo hesitou. Trabalhar com terra era algo que ele nunca havia feito. Mas, pela primeira vez, sentiu vontade de dizer sim.
— Não sei nem por onde começar.
Amaru deu de ombros.
— Ninguém sabe. Mas é assim que tudo começa: com o desconhecido.
Ele entregou a Paulo uma pequena muda e um vaso vazio.
— Segura. Primeiro, você precisa preparar o solo.
Liçōes na Terra
Enquanto trabalhavam lado a lado, Amaru começou a falar, sua voz serena combinando com o ambiente.
— Sabe, Paulo, minha avó sempre dizia que a terra é como a vida. Ela precisa de cuidado, paciência e tempo.
Paulo afundava os dedos na terra úmida, tentando lembrar a última vez que fizera algo tão simples.
— E o que acontece quando a terra está cheia de pedras?
Amaru sorriu.
— A gente tira as pedras. E quando não consegue tirar, planta ao redor.
A frase ficou ecoando na mente de Paulo. Ele olhou para Amaru, percebendo a calma que ele carregava, como se estivesse em paz consigo mesmo.
— Você sempre foi assim? Tão… equilibrado?
Amaru riu de leve.
— Não. Eu aprendi. Meu povo sempre me ensinou que tudo no mundo está conectado. Quando eu era mais novo, achava que isso era conversa fiada. Mas a vida me mostrou que é verdade.
O Primeiro Broto
Depois de algum tempo, Paulo terminou de plantar sua muda. Ele olhou para o pequeno vaso, sentindo algo que não sentia há muito tempo: orgulho. Não o orgulho arrogante de antes, mas uma satisfação genuína por ter criado algo com as próprias mãos.
Amaru colocou a mão em seu ombro.
— Agora, você só precisa cuidar. Regar, esperar, observar.
— E se ela não crescer?
— Algumas plantas não crescem, Paulo. Mas isso não significa que o esforço foi em vão. Às vezes, a lição está no processo, não no resultado.
Uma Nova Perspectiva
Enquanto Amaru arrumava as ferramentas, Paulo ficou sentado no pátio, olhando para o vaso. A simplicidade daquele ato – plantar uma muda – parecia carregar mais significado do que qualquer coisa que ele fizera nos últimos anos.
Pela primeira vez, ele começou a pensar que talvez a vida não fosse sobre chegar ao topo, mas sobre cultivar algo que realmente importasse.
Fechamento do Capítulo
O jardim de Amaru tornou-se o ponto de partida para uma nova fase na jornada de Paulo. A terra, com sua simplicidade e paciência, começou a ensinar o que ele precisava para reconstruir não apenas sua vida, mas também a conexão com quem ele realmente era.
A mudança não viria da noite para o dia, mas, como Amaru havia dito, tudo começava com uma pequena semente.
Esta página pertence ao blog CoHerência.
Todos os direitos reservados.