Capítulo 18 de 26 | Espaço de Partida
O cortiço estava em plena transformação. As ideias de Julinho começavam a ganhar forma, mas o verdadeiro trabalho estava apenas começando. A primeira fase, dedicada ao aconchego, exigia esforços físicos e emocionais dos moradores.
Paulo liderava as operações com uma abordagem diferente: ele delegava com empatia, ouvia sugestões e dava espaço para que cada um trouxesse suas ideias e habilidades. Era um contraste gritante com o homem autoritário que havia chegado ao cortiço meses atrás.
O Desafio da Horta Vertical
O espaço da antiga lavanderia foi escolhido para a instalação da horta. Julinho, com suas habilidades meticulosas, organizava os materiais e dava instruções claras, mas não escapava de alguns olhares desconfiados.
— Ele sabe o que está fazendo? — murmurou Raul para Valéria, enquanto carregava um saco de terra.
— Mais do que todos nós juntos — respondeu ela, com um sorriso.
Paulo interveio, observando a interação.
— Vamos confiar no plano. Julinho já provou que tem visão.
Raul deu de ombros e voltou ao trabalho, mas havia um ar de curiosidade em sua expressão.
Gal Retorna com Novas Ideias
Gal voltou ao cortiço no fim do dia, trazendo algumas ideias que surgiram durante uma conversa com colegas do trabalho.
— Pensei que talvez pudéssemos incluir algo mais funcional no refeitório — disse ela, mostrando um rascunho para Valéria. — Talvez uma área para trocas de utensílios ou até pequenos mercados comunitários.
Valéria examinou o rascunho com interesse.
— Isso é inteligente. Vai incentivar as pessoas a interagirem mais.
Paulo ouviu a conversa de longe e se aproximou.
— Gal, essas ideias são ótimas. Você devia apresentar isso para todo mundo.
Ela hesitou.
— Não sei… não sou muito de falar em público.
— Mas é sua ideia. Eles vão ouvir.
Valéria assentiu.
— Ele tem razão, Gal. Sua perspectiva é importante.
Gal concordou, um pouco nervosa, mas disposta a tentar.
A Primeira Reunião Comunitária
Naquela noite, o cortiço realizou sua primeira reunião formal para discutir os próximos passos do projeto. Paulo abriu a reunião, mas logo passou a palavra para Julinho, que apresentou o progresso técnico.
Depois, foi a vez de Gal. Ela caminhou até o centro do pátio, visivelmente desconfortável, mas com um brilho determinado nos olhos.
— Eu só queria compartilhar uma ideia — começou ela, segurando o rascunho com as mãos trêmulas. — Acho que podemos usar o refeitório para mais do que apenas refeições. Um espaço para trocas de coisas que não usamos mais, ou até feirinhas com produtos feitos aqui.
Os moradores ouviram em silêncio, alguns trocando olhares de aprovação. Quando ela terminou, Valéria começou a aplaudir, e logo todos a seguiram.
Conexões Quebrando Barreiras
Após a reunião, Paulo se aproximou de Gal enquanto ela recolhia suas coisas.
— Você foi incrível.
Ela deu um sorriso tímido.
— Ainda fico nervosa.
— Talvez, mas as pessoas confiam em você. Elas veem o que eu demorei tanto para enxergar.
Gal o encarou por um momento, sem responder. Havia algo nos olhos dela que Paulo não conseguia decifrar, mas ele sabia que ainda havia espaço para reconexão – desde que continuasse a provar que havia mudado.
Fechamento do Capítulo
Enquanto o cortiço avançava em sua transformação física, os laços entre os moradores se fortaleciam. Gal começava a encontrar sua voz e sua independência, enquanto Paulo aprendia o valor de compartilhar responsabilidades e respeitar as ideias dos outros.
A base do novo cortiço estava sendo construída, tijolo por tijolo, mas também coração por coração.
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