Capítulo 6 de 26 | Espaço de Partida
Paulo voltava ao cortiço com passos arrastados e o olhar vazio. Sozinho. A última tentativa de retomar seu status tinha terminado com portas fechadas e sorrisos cínicos. Ele já não carregava a mesma convicção que exibira nas semanas anteriores. A exaustão começava a se manifestar não apenas em sua postura, mas também em sua saúde.
Naquela tarde, ao entrar no pátio do cortiço, Paulo sentiu uma vertigem. Antes que pudesse se estabilizar, seus joelhos cederam, e ele caiu.
O Acolhimento de Raul e Valéria
Quando Paulo abriu os olhos, encontrou-se deitado em um colchão velho, com Raul ao seu lado.
— Finalmente acordou — disse Raul, com uma expressão séria. — Você desmaiou no pátio. Valéria ajudou a trazer você pra cá.
— Eu… estou bem. — Paulo tentou se levantar, mas sua cabeça girou novamente.
— Bem, hein? Você tá magro, abatido e claramente não come direito. Deixa de ser teimoso — disse Valéria, entrando com uma tigela de sopa quente. Ela colocou a tigela na mesa ao lado e encarou Paulo com firmeza. — Aqui, toma.
Paulo hesitou. Não estava acostumado a receber ajuda, muito menos de pessoas que ele mal conhecia.
— Não precisa…
— Precisa, sim — interrompeu Valéria. — Se não fosse o Raul, você ainda estaria lá no chão.
Paulo pegou a tigela com mãos trêmulas e começou a comer. O silêncio foi quebrado por Raul.
— Sabe, Paulo, eu também já fui como você.
Paulo olhou para ele com um misto de curiosidade e irritação.
— Como assim?
— Um cara que achava que o mundo girava ao meu redor. Que não precisava de ninguém. Eu era executivo de uma grande empresa, tinha dinheiro, respeito… ou achava que tinha. E aí, perdi tudo.
Paulo franziu a testa.
— E o que aconteceu?
Raul deu um sorriso amargo.
— Aconteceu que eu precisei descer até o fundo do poço pra entender que o problema não era só o que eu tinha perdido, mas quem eu era. Minha arrogância me destruiu, Paulo. E, pelo que vejo, você tá no mesmo caminho.
Uma Verdade Difícil de Engolir
As palavras de Raul atingiram Paulo como um golpe. Ele queria revidar, argumentar, mas a verdade era que não tinha forças para isso. Ele sabia que Raul estava certo.
Valéria, que observava a interação, cruzou os braços.
— Você sabe qual é o seu problema, Paulo? É o orgulho. Ele não vai te levar a lugar nenhum, só vai te manter nesse buraco.
Paulo terminou a sopa em silêncio, sentindo o peso das palavras. Era a primeira vez que alguém o confrontava daquela maneira sem medo de represálias.
Reflexão de Paulo
De volta ao quarto, ainda fraco, Paulo olhou para o teto por horas. A ajuda de Raul e Valéria o incomodava, não pela bondade deles, mas pela sua própria incapacidade de aceitá-la sem se sentir humilhado.
Enquanto isso, as palavras de Raul ecoavam em sua mente: “Minha arrogância me destruiu, Paulo. E, pelo que vejo, você tá no mesmo caminho.”
Paulo sabia que algo estava começando a mudar, mesmo que ele ainda resistisse a aceitar.
Conexão com a Jornada
Este capítulo marca o primeiro momento em que Paulo é forçado a encarar sua vulnerabilidade. O acolhimento de Raul e Valéria não é apenas físico, mas simbólico – é uma porta para a humanidade que ele tanto negligenciou.
A partir daqui, Paulo começa a perceber que, para se levantar, precisará aceitar sua fraqueza e aprender com aqueles que sempre desprezou.
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