Como Funciona a Mente de um Autista?


“O mundo é como um quadro cheio de detalhes. Enquanto alguns enxergam só a imagem geral, eu vejo cada pincelada, cada cor, cada textura. E isso pode ser fascinante ou exaustivo – depende do dia, do ambiente e de quem está ao meu lado.”

Ser autista não significa ver menos, sentir menos ou entender menos. Muitas vezes, significa o contrário: ver mais, sentir mais e processar mais do que o mundo espera.

A mente autista não funciona de maneira linear, previsível ou dentro do que a sociedade neurotípica considera “normal”.


Mas então, como é essa mente?

A mente autista não apenas sente mais, mas sente diferente. Em algumas áreas, os sentidos são extremamente aguçados, enquanto em outras, podem ser menos responsivos ou processados de maneira distinta.

📌 1. Hipersensibilidade e Hipossensibilidade

Os autistas podem experimentar os sentidos de formas extremas:

🔹 Hipersensibilidade → Quando os estímulos são sentidos de forma exagerada, intensa, quase dolorosa.
🔹 Hipossensibilidade → Quando há uma resposta reduzida ou quase nula a certos estímulos.

E o mais intrigante? Isso pode variar de pessoa para pessoa e até de momento para momento na mesma pessoa!

Por exemplo:
📌 Uma pessoa autista pode sentir a textura de uma roupa como se fosse lixa, mas não perceber a dor de um corte na pele.
📌 Pode se incomodar com sons baixos e contínuos (como um relógio ou lâmpada piscando), mas não reagir a um barulho alto repentino.
📌 Pode sentir cheiros com uma precisão absurda, identificando até mesmo ingredientes em um prato, mas não perceber odores que a maioria das pessoas notaria de imediato.

Isso significa que não existe um padrão único. Cada autista tem seu próprio “mapa sensorial”, e ele pode mudar dependendo do contexto e do nível de sobrecarga.


📌 2. Visão: O Mundo em HD

Algumas pessoas autistas relatam que enxergam detalhes que a maioria não percebe.

📌 As cores podem parecer mais vibrantes.
📌 A luz pode ser muito intensa e dolorosa.
📌 Movimentos repetitivos ou piscantes (como letreiros de LED) podem ser extremamente desconfortáveis.

Essa hipersensibilidade visual pode fazer com que ambientes movimentados, como shoppings ou supermercados, sejam exaustivos. É muita informação chegando ao mesmo tempo.

Mas, ao mesmo tempo, essa capacidade pode ser um dom: muitos autistas são excelentes em arte, fotografia, design e análise de padrões visuais.


📌 3. Audição: O Som Como Explosão

Para algumas pessoas autistas, sons comuns do dia a dia podem ser ensurdecedores.

📌 O som de uma sirene pode causar dor física.
📌 Ambientes com muitas vozes misturadas (como restaurantes ou salas de aula) podem ser um verdadeiro inferno sensorial.
📌 Até sons leves, como o zumbido de um ventilador ou um cachorro latindo ao longe, podem se tornar insuportáveis.

O contrário também acontece: algumas pessoas autistas têm hipossensibilidade auditiva e podem não perceber sons que os outros acham óbvios.

Muitas usam fones de ouvido com ruído branco para filtrar o excesso de som e conseguir focar.


📌 4. Tato: A Sensação na Pele

📌 Algumas pessoas autistas não suportam certos tecidos ou texturas de roupa. O que parece uma camisa normal para um neurotípico pode parecer um casaco de espinhos para um autista.
📌 Outras não toleram toques inesperados – um abraço pode ser desconfortável, um aperto de mão pode parecer invasivo.
📌 Mas também há aqueles que amam texturas e procuram contato, sentindo prazer em encostar em certos tecidos, superfícies macias ou mesmo em serem abraçados por pessoas de confiança.

Isso pode fazer com que autistas tenham hábitos incomuns, como usar sempre o mesmo tipo de roupa confortável ou evitar contato físico. Não é frescura – é necessidade.


📌 5. Olfato e Paladar: Sabores e Cheiros Intensificados

📌 Cheiros podem ser tão intensos que chegam a ser insuportáveis. O que para um neurotípico é um perfume agradável, para um autista pode ser uma experiência sufocante.
📌 A alimentação pode ser um desafio. Algumas pessoas autistas rejeitam certos alimentos por causa da textura, cheiro ou até do som que fazem ao mastigar.
📌 Temperos muito fortes ou misturas de sabores podem ser difíceis de tolerar.

Por isso, muitos autistas têm uma alimentação seletiva – não por escolha, mas porque o corpo reage a certos alimentos de uma forma muito mais intensa do que para os neurotípicos.


O Mundo Como Uma Experiência Sensorial Extrema

O que isso significa na prática?

📢 O mundo pode ser um lugar caótico e doloroso para um autista.
📢 Muitos passam a vida tentando se proteger de uma realidade que os sobrecarrega.
📢 O uso de estratégias como fones de ouvido, roupas confortáveis e evitar certos ambientes não é capricho – é sobrevivência.

Por isso, quando um autista pede para apagar a luz, diminuir o volume ou evitar um contato físico, ele não está sendo exigente – está apenas tentando se manter funcional em um mundo que não foi feito para ele.

Agora, imagina: como seria um mundo feito para autistas?

Vamos explorar essa realidade no próximo texto.


📌 1. Sensibilidade Sensorial: O Mundo em Volume Máximo

A maioria das pessoas filtra os estímulos do ambiente. Um neurotípico pode entrar em um shopping, notar o que é relevante e ignorar o resto.

Já um autista processa tudo ao mesmo tempo:

📌 O brilho da luz fluorescente que parece uma navalha nos olhos.
📌 O som do ventilador misturado com a conversa do caixa, o barulho do ar-condicionado e os sapatos de alguém no corredor.
📌 O cheiro de perfume, comida, plástico novo, suor – tudo vem ao mesmo tempo.

Isso pode ser intenso e até doloroso. Por isso, muitos autistas usam fones de ouvido, óculos escuros ou preferem lugares mais silenciosos. Eles não estão sendo “frescos”. Estão apenas tentando sobreviver a um mundo que não foi feito para suas percepções.


📌 2. Pensamento em Padrões e Detalhes

A mente autista não ignora detalhes – ela se fixa neles.

📌 Uma pessoa autista pode notar o exato tom de voz de alguém e saber se está diferente do habitual.
📌 Pode lembrar detalhes minuciosos de uma conversa de anos atrás.
📌 Pode enxergar padrões que passam despercebidos para a maioria.

Isso pode ser uma força incrível para algumas áreas – como matemática, programação, música, artes visuais. Mas no dia a dia, pode ser desgastante, porque o excesso de informação pode travar a mente e causar sobrecarga.


📌 3. A Dificuldade de “Ler” o Outro

A comunicação humana é cheia de nuances, tons de voz, expressões faciais e mensagens implícitas.

Para um autista, tudo isso pode ser confuso.

📌 Ironia e sarcasmo podem ser difíceis de perceber. Se alguém diz “Nossa, que ótimo!” de forma sarcástica, um autista pode levar ao pé da letra.
📌 As entrelinhas nem sempre são claras. Se alguém diz “Vamos ver isso depois”, a pessoa autista pode realmente esperar por uma resposta depois, enquanto um neurotípico entende que isso significa um “não” disfarçado.
📌 Contato visual pode ser desconfortável ou intenso demais. Algumas pessoas autistas evitam contato visual não por desinteresse, mas porque é algo sobrecarregante.

Isso não significa que autistas não querem se conectar – mas precisam de uma comunicação mais clara, direta e honesta.


📌 4. Rotinas Como Forma de Segurança

Mudanças inesperadas podem ser um pesadelo para um autista.

📌 Se um plano foi feito, ele precisa ser seguido. Um cancelamento de última hora pode ser muito mais difícil do que para um neurotípico.
📌 Rotinas trazem previsibilidade. Saber exatamente o que vai acontecer reduz a ansiedade.
📌 Mudanças abruptas podem gerar crises. Não porque a pessoa autista é “inflexível”, mas porque seu cérebro funciona melhor dentro de padrões.

O mundo autista não gosta de surpresas. Ele busca ordem, lógica e previsibilidade para não se perder no caos externo.


📌 5. Emoções Intensas e Verdadeiras

Existe um mito de que autistas não sentem emoções ou não se importam com os outros. Mas a realidade é o oposto.

📌 Muitas pessoas autistas sentem as emoções com intensidade absurda.
📌 Quando gostam de alguém, é de forma profunda e sincera.
📌 Quando se sentem rejeitadas, a dor é devastadora.
📌 Quando algo é injusto, a indignação é real e avassaladora.

O problema é que elas nem sempre expressam essas emoções da maneira esperada pelos neurotípicos.

📢 Se uma pessoa autista não reage com euforia a uma notícia feliz, não significa que não está feliz.
📢 Se não chora ao demonstrar tristeza, não significa que não está sofrendo.
📢 Se não responde com palavras, pode estar sentindo tanto que as palavras travaram.

Em um mundo que exige expressões padronizadas, autistas muitas vezes são mal interpretados.


📌 6. O Interesse Intenso Por Assuntos Específicos

Autistas frequentemente desenvolvem interesses profundos e intensos por determinados temas.

📌 Podem passar horas, dias ou anos estudando um único assunto.
📌 Sabem tudo sobre aquele tema e falam dele com paixão e detalhes.
📌 Para eles, isso não é obsessão – é uma forma genuína de se conectar ao mundo.

A sociedade chama isso de “fixação”, mas, na verdade, é um jeito autista de explorar e entender a realidade.


📌 7. A Necessidade de Um Espaço Seguro

O mundo neurotípico pode ser caótico e cruel. Para uma pessoa autista, ter um espaço seguro é essencial.

📌 Um local onde pode ficar sozinha quando precisar.
📌 Um ambiente sem estímulos exagerados.
📌 Pessoas que não a forcem a ser algo que não é.

Quando um autista encontra esse espaço – seja um lugar físico ou uma conexão humana verdadeira – ele finalmente pode relaxar e ser quem é.


📢 Como Se Relacionar Melhor Com Pessoas Autistas?

O problema nunca foi o autismo.

O problema é um mundo que não compreende o autismo.

Tu podes ajudar a construir um mundo mais acessível e acolhedor. Como?

📍 Seja direto na comunicação. Evita duplos sentidos e mensagens implícitas.
📍 Respeita o espaço da pessoa. Não força contato visual, abraço ou toque se ela não quiser.
📍 Entende que “esquisito” para ti pode ser conforto para ela.
📍 Se a pessoa estiver sobrecarregada, dá um tempo. Não pressiona.
📍 Aprecia a honestidade. Autistas são verdadeiros no que sentem e dizem.

No fim, o mundo não precisa ser feito só para neurotípicos. Ele pode ser um espaço para todos.

Agora, uma pergunta: e se o mundo fosse feito para autistas? Como ele seria?

Vamos imaginar esse mundo no próximo texto.


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