O Universo Autista


“O mundo grita, e eu escuto tudo ao mesmo tempo. As luzes piscam, e eu vejo cada detalhe. O toque arde, e eu sinto como se fosse fogo. Mas o que me faz diferente não é um erro, é apenas outra forma de ser humano.”


O autismo não é uma doença. Não é um defeito. Não é um erro. O autismo é apenas uma forma diferente de experimentar o mundo.

Mas a sociedade ainda enxerga o autismo como um problema, como algo a ser corrigido. As pessoas autistas não são acolhidas pelo mundo tal como ele é. Pelo contrário, são forçadas a se adaptar a um sistema que não foi feito para elas, o tempo todo.

Então, como é ser autista num mundo feito para neurotípicos?


1. O Que Significa Ser Autista?

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) não é uma única coisa. O autismo não tem uma única forma, um único rosto, um único comportamento.

Cada pessoa autista é única, com suas próprias forças, dificuldades e formas de ver o mundo. Mas há algumas características comuns, como:

🔹 Sensibilidade sensorial intensa → Sons, cheiros, luzes e toques podem ser extremamente incômodos.
🔹 Dificuldade com comunicação social → Interações podem ser confusas, cansativas ou até dolorosas.
🔹 Interesses intensos e profundos → Um assunto pode se tornar um mundo inteiro para explorar.
🔹 Necessidade de rotina e previsibilidade → Mudanças bruscas podem ser difíceis de lidar.

O problema não é o autismo. O problema é o mundo, que não compreende essas diferenças e insiste em chamar de “erro” aquilo que simplesmente é outro jeito de ser humano.


2. A História da Marginalização | Como Nos Fizeram Invisíveis

Por muito tempo, pessoas autistas foram mal compreendidas, rotuladas de “esquisitas”, “frias”, “difíceis”.

🔹 Antes do século XX → Muitas crianças autistas eram consideradas “possuídas”, “selvagens” ou “incorrigíveis”. Eram trancadas em manicômios ou abandonadas.
🔹 Décadas de 1940 a 1960 → Surgiu a teoria da “mãe geladeira”, que culpava as mães por não darem amor suficiente aos filhos autistas (um mito absurdo, mas que prejudicou gerações inteiras).
🔹 Década de 1980 em diante → O autismo começou a ser estudado de forma mais ampla, mas ainda era visto como um distúrbio grave que precisava ser corrigido.
🔹 Hoje → Muitas pessoas autistas ainda enfrentam discriminação, falta de acessibilidade e a pressão constante para “parecerem normais”.

A luta das pessoas autistas não é por cura, porque não há nada de errado nelas. A luta é por respeito, por aceitação, por um mundo onde possam existir sem precisar se esconder.


3. O Mundo Vê o Autismo Como Um Problema

A sociedade construiu muitos mitos sobre o autismo, distorcendo e apagando a realidade dessas pessoas. Aqui estão alguns dos mais comuns:

📢 1. “Pessoas autistas não sentem emoções.”
📌 Por que é um mito?
Autistas sentem tudo – muitas vezes até mais intensamente que neurotípicos. O que pode acontecer é que expressam suas emoções de maneiras diferentes.

📢 2. “Todo autista é um gênio como no filme Rain Man.”
📌 Por que é um mito?
Existem autistas com habilidades excepcionais, mas isso não define o autismo. Muitos enfrentam dificuldades diárias em áreas que passam despercebidas para neurotípicos.

📢 3. “Autistas vivem no próprio mundo e não querem amigos.”
📌 Por que é um mito?
Pessoas autistas querem conexões, mas as regras sociais impostas pelo mundo são confusas para elas. A dificuldade está no código social, não na vontade de se conectar.

📢 4. “Autismo tem cura.”
📌 Por que é um mito?
O autismo não é uma doença, então não precisa de cura. O que as pessoas autistas precisam é de respeito, suporte e um mundo menos agressivo para elas.


4. Como É Ser Autista no Mundo Real?

O mundo foi feito para neurotípicos. Pessoas autistas vivem diariamente desafios que a maioria das pessoas nem imagina.

📌 Na escola:
O barulho da sala de aula pode ser insuportável. A luz fluorescente pode parecer um holofote na cara. Professores acham que autistas não prestam atenção só porque não fazem contato visual.

📌 No trabalho:
Reuniões intermináveis, exigências sociais, sobrecarga sensorial… O ambiente profissional geralmente é hostil para autistas.

📌 Nas relações sociais:
Conversas podem parecer códigos indecifráveis. “O que essa pessoa quis dizer com isso? Era sério ou ironia?”

📌 No dia a dia:
Ir ao mercado pode ser um pesadelo. Luzes piscando, sons altos, um milhão de informações ao mesmo tempo.

📌 No relacionamento consigo mesmo:
Desde pequenos, autistas são ensinados a se moldar ao que o mundo espera. Aprendem que suas necessidades são incômodas, que suas formas de expressar alegria ou desconforto precisam ser reprimidas.

O resultado? Exaustão, ansiedade, depressão.
Porque viver o tempo todo tentando ser algo que não é… é devastador.


5. Como Construir um Mundo Mais Humano para Autistas?

Não é o autismo que precisa mudar. É o mundo.

📢 1. Aceitação, e não apenas tolerância.
📌 Pessoas autistas não precisam “se encaixar”. O mundo precisa abrir espaço para que possam ser quem são.

📢 2. Ambientes mais acessíveis.
📌 Locais mais silenciosos, iluminação menos agressiva, menos estímulos visuais confusos.

📢 3. Comunicação clara e objetiva.
📌 Sem jogos sociais complicados, sem expectativas implícitas. Só clareza e respeito.

📢 4. Respeito ao ritmo e às necessidades de cada um.
📌 Parar de forçar pessoas autistas a se “socializarem” conforme o padrão neurotípico. Cada um se conecta à sua maneira.

O primeiro passo? Ouvir e acreditar no que pessoas autistas dizem sobre suas próprias experiências.


📢 Reflexão Final

Ser autista não é viver no próprio mundo.
É viver num mundo que se recusa a te enxergar como tu és.

📍 Mas e se o mundo fosse diferente?

Agora que já exploramos a realidade autista, como seria um mundo realmente pensado para eles?

No próximo texto, vamos construir esse mundo juntos.


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