Nos contaram tantas vezes a mentira da perfeição que acabamos acreditando nela.
Ela foi repetida, reforçada, tatuada na mente… até parar de soar absurda e se tornar uma verdade inquestionável.
Mas não bastou aceitarmos essa farsa.
Fizemos dela um modelo. Um código de conduta.
Não apenas buscamos ser perfeitos, mas passamos a cobrar essa mesma rigidez dos outros — como se falhar fosse um crime e descansar, um desvio de caráter.
A humanidade foi perdendo o direito ao erro.
Ao cansaço. À imperfeição.
Transformamo-nos em fiscais da performance alheia, exigindo que todos sigam o mesmo ritmo, sob a mesma pressão, dentro do mesmo ideal desumano.
E assim, fomos nos transformando em máquinas.
Não só no comportamento, mas até na estrutura física:
- Corpos travados.
- Músculos enrijecidos.
- Articulações enferrujadas.
- Respiração curta, peito apertado, mente acelerada.
Não nos movemos mais com leveza, porque já esquecemos como.
A tensão acumulada no pensamento se traduziu em posturas duras, rígidas, preparadas para o impacto.
Nos programamos para estar sempre prontos para reagir… mas desaprendemos a simplesmente estar.
E o mais irônico?
Quanto mais tentamos parecer perfeitos, mais nos afastamos do que é genuinamente humano.
Criamos um padrão impossível e nos tornamos prisioneiros dele.
Cada camada dessa perfeição fingida nos distancia mais de nós mesmos.
Fomos arrancando a espontaneidade até sobrar apenas um mecanismo bem treinado para parecer algo que não é.
📌 O Preço de Se Tornar Tudo, Menos Humano
No início, parece um bom negócio:
Ser forte. Ser impecável. Ser produtivo. Ser invulnerável.
Parece que funciona.
Mas só parece.
Porque quem ainda é humano de verdade, paga caro por isso.
1. O primeiro preço: a desconexão
- Você ainda sente, mas não pode demonstrar.
- Você ainda sofre, mas ninguém percebe.
- Você ainda ama, mas não consegue dizer.
Aos poucos, você para de esperar ser visto.
Ri, mas não sente o riso.
Responde “estou bem”, mas já nem pensa se é verdade.
Aperta mãos, olha nos olhos… mas nunca se conecta.
Porque se o mundo só aceita o que é forte,
quem ainda sente está sempre sozinho.
2. O segundo preço: a exaustão
Ninguém aguenta ser uma máquina para sempre.
Ninguém aguenta fingir que não dói.
Mas você tenta.
- Veste sua armadura de eficiência.
- Engole o choro, ajeita a postura, segue funcionando.
- Se distrai, trabalha mais, finge que está tudo bem.
Mas a verdade é que:
- O corpo cobra.
- A mente pesa.
- O vazio cresce.
E um dia, sem aviso, o cansaço chega.
O corpo trava. O peito aperta. A respiração falha.
Você percebe que algo está errado.
Mas ninguém nota.
Porque você treinou todo mundo a acreditar que você está sempre bem.
Então você continua.
Porque parar… significaria admitir que nunca foi forte de verdade.
3. O terceiro preço: o esquecimento de si mesmo
O pior preço não é a solidão.
Não é o cansaço.
É o dia em que você olha no espelho… e não se reconhece mais.
- O que você queria da vida mesmo?
- O que te fazia feliz?
- Quando foi a última vez que você se emocionou sem medo?
O problema de se tornar tudo, menos humano…
É que, no fim, você se torna nada.
A vida vira uma sequência de dias mecânicos,
uma rotina bem programada,
uma existência sem essência.
Você conseguiu.
Ninguém mais te chama de fraco.
Ninguém mais vê você falhar.
Ninguém te cobra nada.
Mas ninguém também te vê de verdade.
Porque no esforço de parecer perfeito,
você desapareceu.
📌 Ainda há tempo?
Se você chegou até aqui, talvez ainda haja algo em ti que se recusa a morrer.
Talvez ainda exista um pedaço que grita por vida. Por verdade. Por humanidade.
A pergunta que fica não é mais:
“Até quando seremos máquinas?”
A pergunta agora é:
Será que ainda dá tempo de voltar a ser humano?
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