O Peso Da Nossa Omissão


O Pesso da Nossa Omissão

Não é o que falamos.
É o que deixamos de falar.
Não é o que fazemos.
É o que escolhemos não fazer.

Nos ensinaram que o erro está apenas nas palavras duras, nos gestos agressivos, nas ações visíveis. Mas ninguém nos contou que o silêncio também fere. Que a omissão também é uma escolha. Que a neutralidade também tem lado.

E quase sempre, não é o lado de quem já está caído.


Quando o silêncio é cúmplice

Você já percebeu que ninguém precisa nos dizer para excluir alguém?

A gente aprende no olhar desviado.
Na piada que ninguém rebate.
No desconforto que ninguém quebra.
No assento que fica vago ao lado da pessoa errada.

E seguimos o script.

  • No elevador, puxamos papo com quem parece conosco. Mas se for um homem negro de boné? Ou uma mulher trans? Aí, de repente, não há mais nada a dizer.
  • Na escola, a criança com trejeitos “diferentes” vira chacota. A professora silencia. Os pais ignoram. A turma ri. E o menino aprende que ninguém virá defendê-lo.
  • No almoço de família, o tio solta um comentário racista. Alguém abaixa os olhos. Alguém muda de assunto. Alguém ri de nervoso. Mas ninguém confronta.
  • No trabalho, a vaga que nunca foi negada formalmente a uma mulher negra ou uma pessoa com deficiência. Mas a gente sabe. A gente sempre sabe.
  • Nas redes, vemos ataques por ser gordo, por ser gay, por ser quem é. Lemos os comentários, assistimos à humilhação… e seguimos rolando o feed.

E nos convencemos de que não somos parte do problema. Porque não fizemos nada.

Mas essa é exatamente a questão.


O mito da mão limpa

Nos orgulhamos de nunca termos ferido ninguém.
Mas será que nunca ferimos ou apenas deixamos que o mundo ferisse por nós?

Nos orgulhamos de nunca termos ofendido.
Mas será que nunca ofendemos ou apenas nos calamos quando alguém ofendia?

Nos orgulhamos de sermos boas pessoas.
Mas será que somos mesmo ou apenas nunca nos colocamos à prova?

Quem fica calado quando um erro acontece não é neutro.
É cúmplice.

Quem nunca se posiciona contra o preconceito, permite que ele continue.

Quem não abre espaço, fecha portas com o próprio silêncio.


A escolha que preferimos não enxergar

A exclusão nem sempre se grita.
Às vezes, ela se sussurra.
Se esconde na ausência.
Na falta de acolhimento.
Na não inclusão.

E o pior é que sabemos.
Sabemos quando poderíamos ter feito algo.
Sabemos quando deveríamos ter dito algo.
Mas o medo do desconforto, da rejeição, da exposição… sempre fala mais alto.

Então seguimos fingindo que não fazer nada é o mesmo que não errar.


A verdade que não queremos encarar

  • O silêncio é um voto. E quase sempre, ele vota pelo opressor.
  • A omissão protege o status quo. Se você não desafia o sistema, então você o valida.
  • Não adianta fazer discursos bonitos se, na hora da ação, você escolhe o silêncio.

A pergunta que fica não é:
“Eu já fiz algo errado?”
Mas sim:
“Quantas vezes eu poderia ter feito algo certo e escolhi não fazer?”

E se a resposta for desconfortável, talvez seja hora de finalmente quebrar esse silêncio.


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