Tu já foste ferido. Disso eu não tenho dúvida.
Não falo de uma grande traição, necessariamente. Às vezes, é o que parece pequeno que mais machuca:
– A mensagem ignorada quando tu mais precisavas de acolhimento.
– A resposta ríspida de alguém que tu só querias ajudar.
– A ausência sentida no dia em que tu mais precisavas de presença.
– A brincadeira que foi longe demais.
– O silêncio que cortou mais que grito.
Mas a verdade mais dura de todas é essa:
Tu também já feriste alguém.
E talvez tu nem te lembres. Talvez tenha sido naquele dia de cansaço, em que teu tom foi mais seco do que deveria.
Ou naquele momento em que tu estavas distraído, e não notaste que o outro esperava algo de ti.
Talvez com tua pressa, teu orgulho, ou tua raiva não resolvida.
A vida humana é feita disso: de encontros e de cortes.
E tu vais te ferir.
E vais ferir também.
Tu vais errar com alguém. E alguém vai errar contigo.
Não importa o quanto tu te esforces, o quanto tu sejas gentil, justo ou amoroso…
Vai chegar o dia em que tu vais magoar alguém que não merecia.
Talvez sem querer. Talvez mesmo querendo. Porque tu também tens tuas dores.
E do outro lado, alguém também vai te ferir.
Talvez aquela pessoa que tu mais amas. Talvez alguém que tu ajudaste muito.
E isso vai doer.
Porque dói quando nos decepcionam. Dói quando esperávamos algo e recebemos o oposto.
E é por isso que o perdão não é um gesto de superioridade.
Não é ser melhor do que o outro.
É só ser humano.
É saber que, assim como tu vais precisar ser perdoado, tu também precisas aprender a perdoar.
A Arte do Perdão: O Que Escorre do Teu Coração
Perdão não é só um pensamento nobre.
É o que tu carregas no coração e, sem perceber, começa a transbordar.
Porque o que vive no teu coração, tu vais falar. Tu vais espalhar.
Se o rancor te habita, ele vai sair pela tua boca, pela tua postura, pelo teu silêncio cortante.
– Tu vais repetir a história para justificar tua dor.
– Tu vais projetar tua raiva em quem não tem culpa.
– Tu vais afastar pessoas que não mereciam esse castigo.
Mas se o perdão fizer morada dentro de ti, o que escorre é outra coisa.
– Tu vais falar com leveza.
– Tu vais lembrar da dor, mas não com veneno.
– Tu vais parar de tentar ferir de volta.
Perdão não é só libertar o outro. É parar de carregar veneno na tua corrente sanguínea.
Quando Tu Decides Perdoar
Não é esquecer.
Não é aceitar qualquer coisa.
Não é virar tapete.
É reconhecer que o outro errou – e mesmo assim, tu escolhes seguir sem carregar aquela dor como identidade.
É não se tornar o erro que te fizeram.
É não viver com a alma em estado de guerra.
Porque tu sabes:
Em algum momento, tu também vais falhar com alguém.
E tu vais desejar que te perdoem.
Tu vais desejar que te deem outra chance.
Tu vais desejar que enxerguem teu arrependimento, tua tentativa de fazer diferente.
E essa é a arte do “toma lá, dá cá”.
A arte de ser humano.
Tu ofereces perdão porque sabes que vais precisar dele.
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