O julgamento é uma armadura.
Julgar é sobre quem?
Se o teu senso de justiça te faz se sentir superior, talvez ele não seja tão justo assim.
Julgar dá prazer.
E nem sempre a gente admite isso.
Dá um gostinho de estar certo, de ser melhor, de ver o erro no outro como um lembrete do próprio acerto.
É como se, ao olhar para o “fracasso” do outro, eu me sentisse mais limpo.
Mais digno.
Mais evoluído.
Mais… humano?
A verdade é que o julgamento quase nunca é sobre o outro.
É sobre mim tentando provar que sou alguém.
Julgar é apontar o dedo e, ao mesmo tempo, levantar o queixo
“Olha como ele é imaturo.”
“Olha o jeito dela se vestir.”
“Ele não faz nada da vida.”
“Ela é tão negativa.”
Enquanto a boca fala sobre o outro,
o peito infla de si.
É como se, sentenciando o outro, eu ganhasse uma medalha imaginária.
Um troféu da moral.
Um selo de superioridade.
Mas a verdade mesmo — a que ninguém posta —
é que o julgamento não melhora ninguém. Só machuca.
Não é correção. É vaidade disfarçada de ética
Quando tu julgas alguém, tu não estás tentando ajudar.
Estás tentando vencer.
Vencer a insegurança que vive em ti.
Vencer o medo de não ser bom o suficiente.
Vencer o incômodo de ver no outro aquilo que tu ainda não resolveu em ti.
Essa pessoa… precisa do CoHerência.
Mas ainda não sabe disso.
Porque quem julga demais…
é quem mais precisa de um espaço pra viver a própria vida.
E talvez esse seja o ponto cego de quem vive julgando o outro:
está tão ocupado tentando consertar o mundo, que esqueceu de construir o próprio.
“Mas eu só falo porque é verdade!”
E quem te deu esse cargo?
Quem te nomeou juiz da vida do outro?
A verdade é que muitas vezes o que tu chamas de sinceridade
é apenas tua falta de empatia vestida de coragem.
Coragem pra se sentir superior.
Pra se afirmar como certo, mesmo que isso custe a dignidade de quem tu estás julgando.
Mas me diz uma coisa:
Quantos e quais dos universos humanos tu já visitaste com humildade?
Tu conheces mesmo a realidade daquele corpo gordo?
Daquele homem trans?
Daquela mulher preta, periférica, sozinha, com três filhos no colo?
Tu sabes como é tentar viver com saúde mental num mundo que fere todos os dias?
Já paraste pra ouvir — não com a intenção de responder, mas com a disposição de entender?
Porque se tu não tens pisado nesses territórios com humildade nos olhos,
então talvez a tua fala não seja verdade.
Seja só eco do teu mundo.
E verdade que só serve no teu mundo não é verdade. É privilégio.
Mas por que somos tão diversos, afinal?
Hoje eu tenho convicção de que as minorias — que englobam também o padrão,
porque o padrão também é uma forma de diversidade —
tecem juntas o que chamamos de humanidade.
Logo, não há melhores nem piores.
São só seres humanos.
E um dia, eu perguntei:
“Pai, por que essa diversidade toda?”
E Ele me mostrou:
Porque iguais não têm liga.
Se somos todos iguais, temos os mesmos medos, os mesmos erros, os mesmos acertos.
Pra que aprender com o outro, se já sabemos tudo no mesmo nível?
A aprendizagem nasce da diferença.
O erro nada mais é do que a diversidade do acerto.
A repetição gera perfeição, mas não gera evolução.
Então, Deus criou a diversidade.
Não só no gênero humano — mas em tudo o que Ele tocou.
É múltiplo.
É poli.
É fragmento de um quebra-cabeça imenso chamado existência.
E a humanidade… é só uma peça.
Mas é a única peça que pode construir ou destruir.
Em resumo?
Julgamento não é justiça.
É vaidade.
Disfarçada de verdade.
E sustentada por um mundo que prefere parecer certo do que ser inteiro.
Porque o julgamento é uma armadura.
E quem usa armadura demais…
é porque está em guerra por dentro.
E talvez só precise de um lugar onde possa, enfim,
tirar o peso e respirar.
Então me diz:
Na próxima vez que teu dedo coçar pra apontar,
tu vais mesmo usar ele pra julgar?
Ou vais ter coragem de usá-lo pra bater na tua própria porta e perguntar:
“Eu já vivi o suficiente pra entender o que o outro sente?”
Se não viveu, escuta.
Se escutou, acolhe.
Se acolheu, aí sim… talvez tu possas dizer algo.
Porque quem não construiu nem a própria casa,
não tem moral pra condenar a bagunça do vizinho.
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