Quando o Amor Vira Trava
Dizem que foi por amor
E talvez tenha sido mesmo.
Era uma mariposa.
Estava ali, lutando, rasgando o casulo com todas as forças que tinha — e as que ainda não sabia ter.
Cada movimento era dor, esforço, resistência. Mas era também potência.
Porque era esse processo duro que fortaleceria suas asas para o voo.
Então, alguém passou. Viu a luta. E, com o coração apertado, decidiu “ajudar”.
Fez um corte no casulo. Facilitou a saída. E ela saiu…
Mas nunca mais voou.
Porque o que fortalece não é sair.
É o caminho. É a travessia.
É o esforço que constrói o músculo do voo.
A gente aprende cada coisa!?
A gente aprendeu que proteger é amar.
Mas esquecemos de perguntar: proteger o quê? de quê? até onde?
E em nome desse “amor”… a gente começou a fazer o oposto do que o amor pede.
Proteger virou se colocar a frente do outro. Aguentar bala, pedrada, xingamento, bala perdida “por amor”!
Virou fazer pelo outro.
Virou tirar as pedras do caminho antes do outro aprender a caminhar com os próprios pés.
E aí, sem perceber, a gente tirou da vida a dor que ensina, a queda que amadurece, o tombo que fortalece.
Sem perceber, começamos a chamar de cuidado… aquilo que, no fundo, é controle, medo e falta de confiança.
A gente não deixa a criança correr, cair, se levantar, descobrir como se levantar, entender que vai doer, chorar. .
Não deixa o adolescente tentar, errar e aprender até tomar responsabildiades na vida e com a própria vida.
Não deixa o adulto decidir e arcar com as consequências.
E o que nasce dessa “proteção”?
Pessoas que crescem sem estrutura humana.
Cheias de medo. Vazias de atitude. Sem força para construir o que importa a elas.
Sem resistência. Sem rumo. Sem coragem pra viver a própria vida.
Proteger não é impedir.
É sustentar enquanto o outro vive.
É estar por perto, mas não a frente.
É deixar que o outro vai dar conta — mesmo que, no caminho, se rale, chore, quebre a cara… e aprenda. Ou não.
O que é dele, ele precisa aprender fazer. Lidar. Resolver.
Tu és apenas a presença, que direciona e mostra o que funcionou para ti. Ombro para ele chorar. Colo para ele recuperar as forças.
Porque o que protege de verdade não blinda da dor. Não impede os processos para amadurecimento.
Ensina a atravessá-la.
Proteger é preparar pra vida.
Não pra manter contigo. Não pra te poupar.
Mas pra oferecer o ambiente e as ferramentas para que o outro vá e assim, permitir florescer aquilo que só nasce no atrito com o mundo: a humanidade.
O superprotegido e o superprotetor
Borboleta que não pode voar
Veja as consequências de não dar ao outro o direito de tentar e o dever de conseguir encarar a própria vida e resolver os próprios problemas.
Quem é superprotegido cresce frágil. Sem anticorpos emocionais. Tudo dói. Tudo desestabiliza. Tudo vira trauma.
A vida vira ameaça. O novo vira pânico.
E o amor… vira dependência.
O Escudo
Quem superprotege, esquece de si.
Exaure o próprio corpo.
Se anula, se perde, se desumaniza.
Não dorme. Não respira.
Porque está sempre em estado de alerta — tentando salvar quem nem pediu socorro.
É como se a vida do outro fosse um campo minado. E o protetor, o escudo.
Mas escudo também quebra. E quando quebra… não tem ninguém pra segurar.
Até onde vai a proteção?
Ela termina antes de impedir que o outro viva.
E deveria parar bem antes dos primeiros sinais de exaustão do protetor.
Porque, no fundo, quem ama não constrói redomas nem precisa se anular.
Mas cria um ambiente, fornece as ferramentas, dá as aulas de vôo, a fim de que o outro crie suas próprias asas.
E tenha autonomia e capacidade para decidir como viver a vida dele da melhor forma que ele puder.
Proteger, de verdade, é ter coragem de soltar a mão — e ainda assim continuar por perto.
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