Capítulo 09 de 13 | Espaço de Permanência
Tu caminhas sozinho pelos arredores do refúgio, sem pressa. O tempo parece não te exigir nada hoje, como se estivesse em paz contigo. Nenhuma cobrança. Nenhuma urgência. Nenhuma máscara.
Depois de tantos dias olhando para dentro, algo em ti se aquietou. O tumulto das buscas se esvaziou. Pela primeira vez em muito tempo, tu não estás tentando ser alguém. Nem provar nada. Nem buscar nos olhos do outro a resposta sobre quem tu és.
O Anfitrião se aproxima em silêncio. Caminha contigo por alguns minutos sem dizer palavra. Até que, com a serenidade de quem já conhece o que está por vir, ele diz:
— Quando tu deixas de buscar aceitação no outro, não é porque deixaste de querer conexão. É porque encontraste, enfim, uma fonte que não seca dentro de ti. E agora, tu não mendigas mais amor — tu compartilhas.
Tu não precisas responder. Porque sabes exatamente do que ele está falando.
É como se algo dentro de ti tivesse se reorganizado. Aquela voz constante que te perguntava “será que vão gostar de mim?”, “será que estou fazendo certo?”, “será que sou suficiente?”… ela silenciou.
E com o silêncio dela, nasceu espaço.
Espaço para ouvir. Para acolher. Para dar.
Sem pressa. Sem esforço. Sem expectativa.
Pela primeira vez, tu sentes que tens tanto — tanto amor, tanta paz, tanta alegria em simplesmente estar — que transbordas.
E o que transborda não é desperdício. É a leveza de quem sabe quem é: humana. E o que isso realmente significa. É a segurança de quem reconhece o que faz bem: habilidades.
E a convicção de que as conexões, de agora em diante, terão outro tom, outro sabor, uma nova e genuína intenção: juntos para apoiar e crescer, para ensinar e aprender, para entregar e receber.
Hoje tu sabes verdadeiramente quem és: alguém que vai errar e vai falhar diversas vezes. Alguém com capacidade criativa, habilidades comunicativas, desempenho em cálculo ou em outras áreas.
Alguém que chora e ri e sofre e se enraivece. Alguém disposto a morrer defendendo seus valores. Alguém capaz de sonhar, de ter esperança em cada passo — até dar certo ou não, em tentar de novo ou tentar um novo caminho.
Alguém que aprendeu a amar a ti mesmo — e que agora está abundante para amar o próximo como a ti mesmo.
O Anfitrião percebe teu silêncio, e continua:
— Esse é o ponto da superabundância.
Quando tu compreendes que já tens tudo o que precisas, tu deixas de viver tentando completar tuas faltas, caber onde não te cabe, mostrar-te digno, sábio, forte — enfim, parecer quem nunca fostes. E começas a viver oferecendo o que há de melhor em ti. Não por obrigação, mas porque agora há presença, essência, e verdade em ti.
Tu te sentas numa pedra, próximo a um pequeno riacho. O som da água correndo reflete exatamente o que sentes: movimento leve, constante, sem esforço. Tu olhas para o Anfitrião e dizes:
— É como se agora eu soubesse o que posso dar. E por que dou.
Ele sorri. Um sorriso pleno. E responde:
— Tu não dás mais para ser amado. Tu dás porque és amor.
Tu percebes que algo mudou em ti de forma irreversível. A busca deu lugar à presença. A carência deu lugar à abundância. E a necessidade de aceitação se dissolveu na paz de saber quem tu és.
Tu deixaste de querer o outro para te sentires alguém.
E agora, finalmente, tu podes querer o outro… para crescer junto com ele.
Esta página pertence ao blog CoHerência.
Todos os direitos reservados.