Capítulo 7 de 11 | Espaço de Acolhimento
O Abraço do Silêncio
A noite desce lentamente, trazendo consigo um conforto que não se encontra no ruído do dia.
Lá fora, a chuva continua sua melodia, como se pontuasse os pensamentos e acalmasse os ânimos.
Dentro, a luz suave do abajur envolve o ambiente em calor.
Há uma sensação palpável de pertencimento – um lugar onde ninguém precisa provar nada, onde a aceitação não é conquistada, mas naturalmente concedida.
Um quebra-cabeças sobre a mesa chama a atenção.
Suas peças espalhadas refletem histórias, momentos e memórias que, por vezes, parecem desconexos.
Tu te aproximas, observando as bordas já montadas, delineando uma imagem que começa a surgir.
O outro viajante, que tem compartilhado este espaço contigo, segura uma peça nas mãos, girando-a entre os dedos com o cuidado de quem reconhece sua importância.
“Sabes,” ele começa, a voz gentil e ponderada, “às vezes, achamos que uma peça não se encaixa, que não pertence.
Mas, com paciência, descobrimos que até as mais difíceis têm seu lugar. É só questão de tempo.”
As palavras dele parecem direcionadas tanto ao quebra-cabeças quanto a algo maior.
Tu o escutas, e algo em ti reconhece essa verdade. Talvez porque, em algum nível, também te sintas como uma peça fora de lugar, esperando descobrir onde pertences.
A Beleza das Peças Imperfeitas
Ele posiciona a peça na mesa com cuidado e olha para ti, com um sorriso que não carrega pressa, mas paciência. “Quando cheguei aqui da primeira vez,” ele continua, “senti-me assim.
Como uma peça perdida, tentando encaixar onde não parecia caber. Mas percebi que o problema não era eu.
Era o lugar que eu buscava me encaixar. E, às vezes, o que precisamos é de alguém que nos ajude a enxergar onde, de fato, pertencemos.”
Tu seguras uma peça entre os dedos, uma pequena parte vibrante que parece resistir ao encaixe.
Girando-a devagar, finalmente encontras o espaço exato.
O som de “clique é quase imperceptível, mas dentro de ti, ele ressoa como um lembrete: as peças mais complicadas também têm seu lugar.
O outro viajante sorri e te oferece outra peça. “Sabes,” ele diz, “às vezes, somos nós que ajudamos os outros a encontrar seu lugar. Isso também é parte do quebra-cabeças da vida.”
Tu aceitas a peça, mas percebes que o gesto carrega mais do que aparenta.
Este quebra-cabeças é uma metáfora das conexões humanas – cada peça é única e indispensável.
A imagem completa só emerge quando todas elas – das mais fáceis às mais difíceis, das mais comuns às mais diferentes, das maiores às mais pequenininhas – encontram seu lugar.
Um Brinde ao Agora
A noite avança, e o quebra-cabeças começa a tomar forma. Apesar de incompleto, ele já reflete beleza em sua imperfeição.
O Anfitrião se levanta e caminha até o armário, retirando três taças de vidro. O som da água fresca sendo servida preenche o espaço, ecoando suavemente como um ritual.
“Antes de encerrar a noite,” ele diz, colocando uma taça diante de cada um, “sempre fazemos um brinde.
Não pelo que já conquistamos, nem pelo que ainda buscamos. Este brinde é pelo que somos agora – peças únicas, essenciais, exatamente como somos.”
Tu seguras a taça, observando o reflexo da luz na água.
É um momento de simplicidade e profundidade, um convite para aceitar não apenas o presente, mas a ti mesmo.
O som das taças se encontrando é suave, mas no espaço, ele carrega o peso de um compromisso silencioso: o de reconhecer e honrar quem somos.
“Brindemos,” o Anfitrião conclui, “pela beleza de sermos nós mesmos. E pelo que estamos retomando.”
O Refúgio da Aceitação
O silêncio que segue é pleno, não vazio.
Ele carrega algo que palavras não alcançam: a aceitação. Não apenas do outro, mas de si mesmo. Enquanto recolho as taças, olho para vocês com um sorriso que mistura carinho e mistério.
“Agora,” continua, apontando para o corredor, “é hora de descansar. Aqui, não há pressa. Este é o teu momento.”
Os três caminham juntos pelo corredor, onde quartos simples, mas acolhedores, aguardam.
As camas parecem oferecer não apenas descanso físico, mas um repouso para a alma.
O som da chuva, agora mais suave, embala o ambiente como uma canção que marca o fim de um dia e o início de algo novo.
Estás calado, mas o Anfitrião percebe algo diferente em teu semblante quando param no corredor, ao lado da porta do outro viajante.
Não é a certeza absoluta ou a solução para todos os problemas, mas algo mais profundo: um vislumbre de paz.
A Reflexão do Quebra-Cabeças
Antes de te apresentar o teu quarto, o Anfitrião lembra do quebra-cabeças sobre a mesa. “Embora ele permanece incompleto, isso não o torna menos bonito.
Suas peças, espalhadas, são como as histórias de cada um de nós – inacabadas, mas indispensáveis.
Porque, afinal, não somos todos assim? Fragmentos de algo maior, ainda em construção, mas já completos em nossa essência”.
Enquanto o som da chuva se mistura ao ritmo tranquilo da casa, percebes que este espaço é mais do que um refúgio. Ele é um convite para que cada peça, com todas as suas imperfeições, encontre seu lugar.
E neste espaço onde todos pertencem, o dia se encerra.
Não com respostas definitivas, mas com a aceitação de que o quebra-cabeças da vida é bonito, mesmo quando ainda não está completo.
A Reflexão Final
Quais peças de ti mesmo tens resistido a aceitar? E se, hoje, começasses a enxergar a beleza nelas – exatamente como são?
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Tu pode caminhar por onde quiser. Mas se quiseres seguir a trilha como ela foi pensada, aqui, sempre encontrarás o próximo texto e o anterior.
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