⏱️ Leitura de 3 minutos | ⚓ Pode provocar acolhimento, autoidentificação e pausa estratégica
Quando tudo parece avançar e você sente que ainda nem saiu do lugar, talvez o que falte não seja velocidade — mas verdade.
Um diálogo entre duas pessoas que se encontram no Banquinho de Xadrez da Praça do CoHerência. Nenhuma delas está no tempo certo. Ambas estão tentando entender se existe algum. Fala sobre ansiedade e procrastinação sem dizer seus nomes, mas mostrando suas dores.
(Cena: fim de tarde, mesmo dia. Léo e Joana caminham juntos, em silêncio, e se aproximam do banquinho de concreto com tabuleiro de xadrez pintado. Não há peças. Sentam.)
— Sabe o que eu sinto agora?
— Fala.
— Que eu tô atrasado pra tudo. É como se ao redor tudo parecesse andar rápido demais, a sensação de atraso vira regra.
— Pra quê, por exemplo?
— Pra vida.
— Mas a verdade é que ansiedade e procrastinação andam juntas quando tudo parece grande demais pra começar. Mas qual parte da vida tem relógio?
— Todas, eu acho. Todo mundo parece estar em algum lugar que eu ainda nem comecei a pensar.
— Tipo carreira?
— Tipo ter certeza das coisas.
— Ah… então tamo empatados.
(Olham o tabuleiro vazio.)
— E se o problema não for estar atrasado?
— E se for?
— Talvez o mais difícil nem seja começar, mas como lidar com a culpa de não ter feito antes?
— Mas o mundo não quer percurso. Quer ponto de chegada.
— O mundo quer palco.
— E eu sou só bastidor. Esqueço compromissos, acordo cansado, perco o foco fácil. São pequenos sintomas da ansiedade que se acumulam como peças num tabuleiro — e a gente não sabe qual mover.
— É mesmo.
(Joana ri, pela primeira vez de verdade.)
— Isso foi bom.
— O quê?
— “Sou só bastidor”. É isso.
— E tu?
— Eu… finjo palco. Mas só por fora.
— E por dentro?
— Nem luz tem. — Tem dia que o cérebro decide não colaborar. E o coração também. Não é frescura. É bloqueio emocional — daqueles que a gente nem percebe chegando.
(Silêncio. Joana pega uma tampinha de garrafa do chão e move como uma peça no tabuleiro invisível.)
— E se for isso mesmo o jogo?
— Como assim?
— Cada um com suas peças. Suas faltas. Seu tempo.
— Mas qual o objetivo?
— Talvez… não seja vencer. Talvez seja só… jogar inteiro.
(Os dois ficam olhando a tampinha por um tempo. O sol já foi. Só sobra luz da praça. Mas há alguma clareza agora.)
— Léo…
— Fala.
— Acho que vou voltar amanhã.
— Eu também.
— Esse banco mexe com a cabeça.
— Ou só limpa.
(Eles levantam. Não resolvidos. Mas mais presentes. O jogo ainda não começou. Mas agora já tem tabuleiro.)
Se isso te tocou, talvez o próximo passo esteja em ficar mais um pouco. Aqui ninguém te cobra pressa.
🪑 Neste texto, o protagonista és tu.
Tu que sentas no banco de concreto, sem saber se é pausa ou abandono.
Que compara teu tempo com o de todo mundo e esquece que teu percurso é outro.
Mas ao olhar o tabuleiro — mesmo vazio — te dás conta de que o jogo já começou: porque tu paraste. E pensaste.
E agora, jogas inteiro. Mesmo sem saber ainda qual peça és.
Este texto pode tocar diferente em quem está acelerado demais, ou travado demais. Hoje você pode se ver em uma das falas. Amanhã, talvez em outra. E isso também é caminho.
E como disse o Anfitrião no “bilhete 03 do Banco da Praça”, a coragem nem sempre se move. Às vezes ela só fica ali, do teu lado.
→ BANCO DA PRAÇA – bilhete 03
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