Espaço: O Banquinho de Xadrez | Praça do CoHerência
(Cena: fim de tarde, mesmo dia. Léo e Joana caminham juntos, em silêncio, e se aproximam do banquinho de concreto com tabuleiro de xadrez pintado. Não há peças. Sentam.)
— Sabe o que eu sinto agora?
— Fala.
— Que eu tô atrasado pra tudo.
— Pra quê, por exemplo?
— Pra vida.
— Mas qual parte da vida tem relógio?
— Todas, eu acho. Todo mundo parece estar em algum lugar que eu ainda nem comecei a pensar.
— Tipo carreira?
— Tipo ter certeza das coisas.
— Ah… então tamo empatados.
(Olham o tabuleiro vazio.)
— E se o problema não for estar atrasado?
— E se for?
— E se for só… outro percurso?
— Mas o mundo não quer percurso. Quer ponto de chegada.
— O mundo quer palco.
— E eu sou só bastidor.
(Joana ri, pela primeira vez de verdade.)
— Isso foi bom.
— O quê?
— “Sou só bastidor”. É isso.
— E tu?
— Eu… finjo palco. Mas só por fora.
— E por dentro?
— Nem luz tem.
(Silêncio. Joana pega uma tampinha de garrafa do chão e move como uma peça no tabuleiro invisível.)
— E se for isso mesmo o jogo?
— Como assim?
— Cada um com suas peças. Suas faltas. Seu tempo.
— Mas qual o objetivo?
— Talvez… não seja vencer. Talvez seja só… jogar inteiro.
(Os dois ficam olhando a tampinha por um tempo. O sol já foi. Só sobra luz da praça. Mas há alguma clareza agora.)
— Léo…
— Fala.
— Acho que vou voltar amanhã.
— Eu também.
— Esse banco mexe com a cabeça.
— Ou só limpa.
(Eles levantam. Não resolvidos. Mas mais presentes. O jogo ainda não começou. Mas agora já tem tabuleiro.)
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