Perguntas Frequentes sobre Pessoas Trans: O Que Você Sempre Quis Saber (Mas Tinha Medo de Perguntar)


 Tem Medo de Perguntar?

A sociedade ainda tem muitas dúvidas sobre pessoas trans. Algumas dessas dúvidas vêm da curiosidade genuína, outras do desconhecimento e da desinformação. Perguntas Frequentes sobre Pessoas Trans: O Que Você Sempre Quis Saber (Mas Tinha Medo de Perguntar) existe para trazer um equilíbrio entre perguntar para aprender e perguntar apenas para fazer perguntas invasivas.

Se você quer entender melhor o universo trans sem cometer gafes ou invadir a privacidade de ninguém, este texto é para você. Vamos esclarecer as perguntas mais frequentes sobre a vivência trans e ajudar você a compreender de forma respeitosa e realista.


A Pergunta: “O que significa ser trans?”

Resposta:

Uma pessoa trans masculina nasce com a mente masculina e o corpo feminino.

Uma pessoa trans feminina nasce com a mente feminina e o corpo masculino.

A transição de gênero é o processo de adequação entre a essência e aparência da pessoa trans, compreende as consultas com psicólogo, psiquiatra, endocrinologista, clínico geral, ginecologista ou urologista, a fim de verificar quais etapas cada pessoa trans tem necessidade de passar. Ela compreende desde as terapias e consultas, até o uso dos hormônios e, as cirurgias.

Cada pessoa trans tem sua forma única de viver sua transexualidade. Isso significa que cada uma delas irá buscar, na transição de gênero, aquilo que é importante para ela, para diminuir ou eliminar a disforia de gênero que ela sente com o próprio corpo, já que a mente aponta para uma direção e o corpo mostra ao mundo outra. Afinal, ela deseja coerência, ou seja, se parecer com quem ela é:

Homens trans desejam ter características masculinas. E as mulheres trans desejam ter as características femininas.


Um exercício prático e claro para que você compreenda esta questão.

Quero te convidar para uma autorreflexão:
Fique presente.
Respire fundo.
E imagine que, ao abrir os olhos, hoje de manã, sua forma de pensar, de agir, de sentir, de desejar, de decidir, de se posicionar continuam as mesmas.
Apenas seu corpo é diferente.
Se você é homem, imagine que agora tenha seios e uma vagina.
Se você é mulher, imagine que agora tenha que lidar com um pênis e com pelos faciais.

Como seria para ti, se ao tomar teu banho, tivesse esssa bela surpresa?

(Não esqueça, sua mente continua a mesma, apenas seus órgão sexuais foram trocados. Você continua pensando como o homem que sempre foi. E você como a mulher que antes dessa experiência era).

Mas agora precisa conviver ao longo do dia sendo quem é e parecendo quem nunca foi.

Não bastando essa incoerência toda.
Agora, o mundo inteiro também te enxerga apenas pelo que vê do lado de fora, seus órgãos e características biológicas.

As pessoas, agora, elas te chamam por pronomes que não são os teus.
Eles te tratam como alguém que você nunca foi.
Eles te exigem comportamentos, reações e sentimentos que não pertencem a você.

E te impedem de ir ao banheiro de tua preferência só porque você tem pênis, e isso é perigoso para as mulheres. Mas você também é mulher. Assim que essa experiencia acabar, você volta a ser e parecer quem sempre foi.

E eles te negam trabalho porque você não é compativel com o padrão. Mas você é a mesma pessoa, com as habilidades e competências de antes.

E você grita. “Gente! Eu sou homem!”. “Meninas, sou eu, a Pati”.

Mas eles dizem que você é o que parece ser. Se você tem peitos e vagina, é mulher. Se tem pênis e barba, homem.

Mas você continua pensando como sempre pensou, gostando do que sempre gostou e se comportando como sempre se comportou antes deste exercício.

Agora, me diga:
Quem você é?

O exercício termina aqui.
Mas a verdade permanece.

Ser trans não é virar algo novo.
É alinhar aparência a essência, para tornar visível quem você sempre foi.


Pergunta 1: “Se você é trans, por que não nasceu assim?”

 Resposta:

Nós nascemos assim. O problema não está em nós, mas no fato de que a sociedade espera que o gênero de uma pessoa corresponda exatamente ao sexo biológico.

A identidade de gênero de uma pessoa não é algo visível no nascimento para todas as pessoas. Por isso a transição de gênero acontece, mas só na maioridade, mesmo a pessoa sabendo quem é.

Pense assim:

  • Se um homem cis pode ser alto, baixo, forte, magro, com barba ou sem barba, por que um homem trans precisaria de um corpo específico para ser validado como homem?
  • Se uma mulher cis pode ter diversas formas de se expressar, por que uma mulher trans teria que seguir um padrão único?

Ser trans não é “mudar de gênero”, mas sim alinhar a própria identidade com a forma como o mundo enxerga do gênero que essa pessoa se identifica desde cedo.


 Pergunta 2: “O que causa a transexualidade?”

 Resposta:

Essa pergunta parte da ideia errada de que ser trans é um erro que precisa de uma explicação científica.

A verdade é que a identidade de gênero é uma variação natural da experiência humana – assim como há pessoas canhotas e destras, há pessoas trans e cis, negras e brancas, altas e baixas, fortes e fracas, homens e mulheres e pessoas que não se identificam com nenhum dos dois gêneros, pessoas que não conseguem criar na mente a imagem de uma maçã, elas precisam ver a imagem para poder imaginá-la. Há diversas formas de ser humano. Ou seja, há diferentes Universos Humanos que compõe a humanidade.

Se a identidade de gênero de pessoas cis não precisa ser explicada, por que a das pessoas trans precisaria?


 Pergunta 3: “Toda pessoa trans faz cirurgia e toma hormônios?”

 Resposta:

Não. Algumas pessoas trans desejam modificar seus corpos, outras não. E isso não as torna menos trans.

A transição de gênero não é um pacote fechado. Cada pessoa tem suas necessidades e escolhas. Algumas fazem uso de hormônios, outras não. Algumas fazem cirurgias, outras não.

Se ela passará ou não pela transição de gênero – que compreende o acompanhamento com uma equipe médica de psicólogo, psiquiatra, endocrinologista, clinico geral e ginecologista ou urologista, a fim de ajustar o processo a mudança da aparência dela para diminuir ou eliminar a disforia de gênero que ela sente – isso dependerá do nível da necessidade dela em se parecer com quem ela sempre foi, um homem.

O que define uma pessoa trans não é o que ela faz com seu corpo, mas sim a forma como se reconhece, se identifica.

Se homens cis têm corpos diferentes entre si e continuam sendo homens, por que homens trans precisariam ter um único tipo de corpo para serem válidos?


 Pergunta 4: “Mas e na hora do sexo? Como funciona?”

Essa é uma das maiores dúvidas – e também uma das mais invasivas. No entanto, já que a curiosidade existe, vamos transformar essa questão em algo útil. Ah! E já pode ir pegando a bolsa ou abrindo a carteira.


 Exercício: A Aula do Prazer Sem Pênis

Imagine que estamos em uma roda de amigos em um barzinho e você me pergunta:

“Mas como você transa com a sua mulher, se você não tem pênis?”

Eu respiro fundo e digo:

“Eu posso te explicar, mas isso é uma aula, e aulas têm valor. Você está disposto a me pagar R$500 agora para aprender?”

O cara hesita, mas diz “Sim”.

“Ótimo. Agora, se a galera gostar da aula e achar que foi realmente valiosa, o preço dobra e passa a valer mil reais. Você topa pagar mil reais hoje?”

Ele, meio sem saída, responde “Sim” de novo.

Então você começa:


1. O Desafio

“Beleza, então vamos lá. Imagine que você acorda amanhã sem pênis. Mas seu desejo continua. Sua parceira continua te querendo. O que você faz?”

(Te dou uma pausa. Deixo você refletir.)

“Se sua única resposta foi ‘mas eu não posso fazer nada sem o pênis’, então eu tenho uma péssima notícia: você nunca soube realmente dar prazer para uma mulher. Você só soube colocar um pênis dentro dela e torcer para que isso resolvesse.”


2. O Exemplo da Manga

“Agora, pensa comigo: você já chupou uma manga bem madura, daquela que lambuza o nariz, mela toda a boca, escorre pelo queixo e se você deixar, vai escorrendo pelos dedos até o cotovelo? Sim?”

(Deixo você visualizar. Você, provavelmente, vai rir ou se mexer desconfortável.)

“Se, quando você come uma manga, você se entrega ao momento, usa toda sua habilidade degustativa, língua, lábios, mãos, dedos, sente a textura, o sabor, percebe como ela desliza na boca… Por que, na hora do sexo, você acha que prazer se resume a um único movimento mecânico de vai e vem?”


3. Explorando Outras Possibilidades

“Agora, sem o pênis como protagonista, você tem o corpo inteiro da sua mulher para explorar. Você já parou para prestar atenção nos outros pontos que fazem ela estremecer? No jeito que ela respira quando você chega perto da nuca? Nos arrepios que correm pelo corpo dela quando você desliza os dedos pela costas e chega até a cintura?”

“E se ela gosta de penetração? Bom, você tem os dedos. Mas não é só enfiar e achar que resolveu. Você vai sentir o corpo dela reagindo, descobrir qual pressão faz ela gemer, qual movimento faz o corpo dela rebolar, qual ponto faz ela perder o fôlego. E se for algo mais intenso, tem algo chamado pecker, que é um pênis de silicone que você veste. Se isso der prazer a ela, por que não?”


4. A Conclusão Final

“Agora me diz: sem o seu pênis, você conseguiria fazer sua mulher gozar? Se a resposta ainda for não, então quem tem um problema não sou eu, que não tenho pênis. É você, que só aprendeu a transar para o seu próprio prazer.”

E, aí? Pix de R$ 500 ou R$ 1.000? 😁


 Pergunta 5: “O que significa ‘ser passável’?”

 Resposta:

O termo “ser passável” se refere a quando uma pessoa trans é percebida pelos outros como uma pessoa cis.

Nem toda pessoa trans quer ser passável. Algumas buscam isso por segurança, outras porque se sentem melhor assim. Mas não existe um “jeito certo” de ser trans.

O foco deve estar em respeitar a identidade da pessoa, independentemente de sua aparência.


 Pergunta 6: “Posso fazer perguntas para uma pessoa trans?”

 Resposta:

Sim, mas com bom senso.

Antes de perguntar algo, se pergunte:

  1. Você faria essa mesma pergunta para uma pessoa cis?
  2. A resposta dessa pergunta é algo que você pode pesquisar por conta própria?

Se a resposta for “não”, então provavelmente sua pergunta é invasiva.


 Tenha a Curiosidade de uma Criança

Aprender sobre pessoas trans é um passo essencial para criar um mundo mais respeitoso. Muitas dúvidas podem ser resolvidas com um pouco de pesquisa e empatia.

A melhor forma de interagir com uma pessoa trans é respeitá-la como qualquer outro ser humano. Se houver dúvidas sinceras, pergunte com respeito.

E se a curiosidade não for essencial, apenas escute. O respeito começa na disposição de aprender sem invadir.

Tenha a cursiosidade de uma criança, que pergunta com intenção real de saber, compreender para praticar. Não para tornar a resposta um prato cheio para rodinhas de fofoca depois.

O que você fará com esta informação?

E ai, essa aula vale ou não vale mil reais?


Esta página pertence ao blog CoHerência.
Todos os direitos reservados.

Voltar ao Blog CoHerência

Deixe um comentário