Transmasculinidade e Transfeminilidade: Entre a Verdade e a Marginalização


“O mundo nos ensina a nos esconder, mas a nossa existência não é um erro para ser corrigido. É uma verdade para ser vivida.”


1️⃣ O Que é Ser Transmasculino e Transfeminino?

O que significa ser um homem trans ou uma mulher trans? Para muitas pessoas, a resposta se resume à ideia de “nascer no corpo errado”. Mas essa visão simplista não dá conta da complexidade que envolve a identidade de gênero.

Ser transmasculino não é apenas ser um homem que foi designado mulher ao nascer. Ser transfeminina não é apenas ser uma mulher que foi designada homem. Essas experiências carregam consigo uma história, uma luta e uma realidade social que molda cada aspecto da vida.

Desde cedo, pessoas trans enfrentam um mundo que nega suas existências, que tenta encaixá-las em padrões rígidos, que quer “consertá-las” ou apagá-las. Mas apesar de tudo isso, elas vivem, resistem e constroem suas próprias narrativas.

Aqui, exploramos essa vivência — o que a sociedade enxerga, o que a realidade impõe e o que a verdade sente na pele.


2️⃣ A História da Marginalização | Como Nos Fizeram Desaparecer

A exclusão de pessoas trans não começou hoje. Ela foi historicamente construída e sustentada ao longo dos séculos.

🔹 Antiguidade: Em diversas culturas antigas, existiam pessoas que transitavam entre gêneros sem serem marginalizadas. Em sociedades indígenas da América do Norte, por exemplo, os Two-Spirit (duas almas) eram respeitados e ocupavam papéis importantes na comunidade.

🔹 Idade Média e Perseguição Cristã: Com a imposição de normas rígidas de gênero pelo cristianismo, qualquer desvio do “homem forte” e da “mulher submissa” passou a ser visto como pecado ou doença. Pessoas trans foram perseguidas, queimadas e expulsas da história oficial.

🔹 Século XX | Psiquiatria e Patologização: A ciência passou a rotular identidades trans como transtornos mentais. A ideia de que pessoas trans precisavam de “cura” se enraizou, e muitas foram submetidas a terapias de choque, internações e experimentações médicas brutais.

🔹 Hoje | Invisibilidade e Violência: Mesmo com avanços, o mundo ainda estrutura sua sociedade na cisgeneridade (a ideia de que ser cisgênero é o único caminho “natural”). Pessoas trans enfrentam violência extrema, exclusão social, dificuldade no mercado de trabalho, e uma expectativa de vida de apenas 35 anos no Brasil.

Essa história de marginalização não é acaso, nem destino. Foi um projeto social. Mas como todo projeto humano, ele pode ser desconstruído.


3️⃣ A Verdade que o Mundo Enxerga | Mitos e Realidade Deturpada

A sociedade construiu várias narrativas sobre pessoas trans. Algumas delas são:

Ótima pergunta! Aqui estão alguns dos mitos mais frequentes sobre pessoas trans, que são repetidos em diversas esferas da sociedade, desde conversas informais até discursos institucionais:


1️⃣ “Ser transgênero é modinha”

📌 Por que é um mito?
A identidade de gênero não é uma tendência. Pessoas trans sempre existiram, mas foram apagadas, marginalizadas e forçadas ao silêncio ao longo da história. O que mudou é que, hoje, há mais acesso à informação e mais segurança (ainda que insuficiente) para falar sobre isso.


2️⃣ “Crianças não podem ser trans, isso é coisa da cabeça delas”

📌 Por que é um mito?
Crianças trans não são uma invenção moderna. A identidade de gênero não é algo que se descobre apenas na adolescência ou na vida adulta — muitas pessoas trans sabem quem são desde pequenas.

As mesmas pessoas que dizem que “crianças não podem ser trans” são as que não questionam quando uma criança designada menina ao nascer brinca de princesa e uma criança designada menino brinca de super-herói. A sociedade reconhece o gênero desde a infância, mas nega isso quando a criança diz algo diferente do que esperavam.


3️⃣ “É só um problema psicológico. Com terapia passa”

📌 Por que é um mito?
A identidade de gênero não é uma doença e não precisa de cura. Nenhuma terapia pode “desfazer” a identidade de alguém, porque não há nada de errado em ser trans.

O que causa sofrimento não é ser trans, mas a transfobia e o preconceito da sociedade. Por isso, muitas pessoas trans sofrem de depressão, ansiedade e outros impactos emocionais — não porque sua identidade é um problema, mas porque o mundo as trata como se fossem.


4️⃣ “Se não fez cirurgia, não é trans de verdade”

📌 Por que é um mito?
Nem toda pessoa trans deseja ou tem acesso a cirurgias de afirmação de gênero. A identidade não está no corpo, mas no ser.

Além disso:

  • Algumas pessoas trans não querem procedimentos médicos.
  • Outras não têm acesso ao SUS ou dinheiro para pagar um procedimento privado.
  • Outras não podem fazer por questões de saúde.

📌 A única coisa que define se uma pessoa é trans ou não é a própria identidade dela.


5️⃣ “Homens trans são mulheres lésbicas confusas” / “Mulheres trans são gays que exageraram”

📌 Por que é um mito?
Identidade de gênero e orientação sexual são coisas diferentes.

🔹 Homens trans podem ser héteros, gays, bissexuais, pansexuais, etc.
🔹 Mulheres trans também.

Ser trans não tem nada a ver com ser gay ou hétero — tem a ver com quem você é, não com quem você ama ou deseja.

Essa confusão é fruto de uma sociedade que reduz as experiências humanas a rótulos simplistas.


6️⃣ “Pessoas trans nunca vão ser ‘homens de verdade’ ou ‘mulheres de verdade’”

📌 Por que é um mito?
Isso parte da visão equivocada de que gênero é determinado apenas pelo corpo biológico e que só homens cis são homens e só mulheres cis são mulheres.

Na verdade:
🔹 O que faz um homem ser homem é sua identidade — e não genitais, hormônios ou cromossomos.
🔹 O que faz uma mulher ser mulher é sua identidade — e não o que a sociedade espera do corpo dela.

A identidade de gênero não precisa da validação dos outros para ser legítima.


7️⃣ “Se eu te conheci antes da transição, vou continuar te chamando pelo nome antigo”

📌 Por que é um mito?
O nome morto (deadname) é um nome que não pertence mais à pessoa. Insistir em usá-lo, especialmente quando se sabe que a pessoa não quer, é uma forma de violência e desrespeito.

🔹 A transição não “começa” no momento em que a pessoa se apresenta como trans — ela já existia como quem sempre foi, mesmo antes de assumir isso publicamente.
🔹 Se você respeita a pessoa, respeita o nome dela.


8️⃣ “Pessoas trans só querem atenção”

📌 Por que é um mito?
Se ser trans fosse “só para chamar atenção”, ninguém enfrentaria:

  • Violência diária (o Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo).
  • Dificuldade de conseguir emprego (muitas pessoas trans são forçadas à informalidade).
  • Rejeição familiar e social.

A verdade é que ser trans torna a vida mais difícil, e ninguém se arriscaria a enfrentar tudo isso apenas por querer atenção.


9️⃣ “Se uma pessoa trans se arrepender, significa que ser trans não é real”

📌 Por que é um mito?
Casos de “arrependimento” são raros e, quando acontecem, geralmente não têm a ver com a identidade trans em si, mas com falta de apoio, pressões externas, medo e discriminação.

Além disso, muitas pessoas cis também passam por questionamentos sobre sua identidade e ninguém usa isso para invalidar a cisgeneridade delas.


🔟 “A sociedade aceita pessoas trans, não existe mais transfobia”

📌 Por que é um mito?
Embora a visibilidade trans tenha aumentado, isso não significa aceitação real.

🔹 Pessoas trans ainda são assassinadas por serem quem são.
🔹 A expectativa de vida de uma pessoa trans no Brasil é de 35 anos.
🔹 Há dificuldades para conseguir emprego, moradia e até para acessar serviços básicos.

📢 A transfobia continua existindo, apenas mudou de forma.


📝 Desconstruindo Mitos para Construir Respeito

Os mitos sobre pessoas trans não surgiram do nada. Eles foram construídos e disseminados ao longo da história para deslegitimar e marginalizar essas existências.

📌 O que podemos fazer?
Ouvir pessoas trans sem interromper ou questionar sua realidade.
Aprender com fontes confiáveis e não apenas com opiniões soltas.
Desconstruir nossos próprios preconceitos e estar abertos a mudar.
Defender o respeito e os direitos das pessoas trans em todas as esferas da sociedade.

📢 Se queremos um mundo mais humano, precisamos começar pelo básico: reconhecer que todas as pessoas têm o direito de existir sem precisar justificar isso.

Essas ideias não só são falsas, como desumanizam quem vive essa realidade. A verdade é que ser trans não é um fenômeno novo, não é uma escolha e não precisa de validação externa para existir.


4️⃣ A Verdade Sentida na Pele | Como é Ser Trans no Mundo Real

Ser trans é navegar um mundo que foi feito para te apagar.

📌 Na infância: Desde cedo, a criança sente que algo não se encaixa. A imposição do gênero que não corresponde à sua identidade gera um profundo sofrimento invisível.

📌 No reconhecimento: O processo de se reconhecer trans não acontece da noite para o dia. Muitas pessoas passam anos em negação, tentando se forçar a caber no molde que lhes foi imposto.

📌 Na família: Para muitas pessoas trans, o maior medo não está fora de casa, mas dentro dela. O risco de ser rejeitado por aqueles que deveriam oferecer amor incondicional é real e devastador.

📌 No mercado de trabalho: O preconceito fecha portas. O nome no documento pode ser um obstáculo, a aparência pode ser um problema para empregadores, e a identidade de gênero pode ser usada como motivo de exclusão.

📌 Na saúde: O acesso a tratamentos hormonais e cirúrgicos é cercado de burocracia e negligência. Muitos profissionais de saúde sequer sabem lidar com questões trans, perpetuando desrespeito e desinformação.

📌 Na sociedade: Desde ir ao banheiro público até conseguir alugar um apartamento, cada detalhe da vida é uma batalha para pessoas trans. O simples ato de existir costuma ser visto como uma afronta.

E mesmo assim, pessoas trans seguem vivendo.

Porque ser trans não é sobre sofrimento. É sobre viver sua verdade, apesar de um mundo que insiste em negá-la.


5️⃣ Impactos na Vida Cotidiana | O Que Ainda Precisa Mudar

📌 Respeito ao Nome e Pronomes: Não é “preferência”, é identidade. Errar de propósito é violência.
📌 Banheiros Acessíveis: Ninguém deveria ter que escolher entre segurança e necessidade básica.
📌 Acesso ao Mercado de Trabalho: Empregar pessoas trans não é caridade — é um direito básico.
📌 Humanização no Atendimento Médico: Saúde não deve ser um privilégio de cisgêneros.
📌 Fins das “Brincadeiras” e Piadas Transfóbicas: O que parece “só uma piada” destrói vidas.

Esses são passos básicos para construir um mundo onde a existência trans não seja um desafio diário.


6️⃣ O Que Precisamos Aprender | Como Ser Genuinamente Humano nestes casos?

📌 1. Escute sem invalidar → Se uma pessoa trans fala sobre sua experiência, não tente explicar por que ela está errada.

📌 2. Aprenda com a própria pesquisa → Não jogue sobre pessoas trans a responsabilidade de te educar sobre tudo.

📌 3. Respeite a identidade, mesmo que não entenda → Você não precisa entender para respeitar.

📌 4. Se errar, corrija e siga em frente → Ninguém espera perfeição, mas espera comprometimento.

📌 5. Enfrente a transfobia quando a vir → O silêncio também é violência.


7️⃣ Convite à Correção e Contribuição

📢 Vivemos nesse universo, mas cada experiência é única. Se você é um homem trans, uma mulher trans ou uma pessoa não binária, sua voz tem espaço aqui.

📌 Se sentiu que algo está impreciso, incompleto ou enviesado, por favor, nos corrija.
📌 Se quiser adicionar algo que acredita ser essencial, contribua com sua experiência.


🌍 A Existência Como Revolução

📢 Ser trans não é estar errado. Errado está o mundo que criou um padrão único e tentou encaixar todas as vidas nele.

Pessoas trans não são um problema a ser resolvido, mas uma verdade a ser reconhecida.

A luta não é por aceitação, mas por um mundo onde ninguém precise pedir permissão para ser quem é.


Reflexão Final

💭 o peso de sempre ter que dar conta de tudo no cotidiano. Tu já sentiste na pele o peso destas narrativas no dia a dia? Como foi passar por essa experiência? Conhece alguma outra que não está ai?
✍️  o peso de sempre ter que dar conta de tudo no cotidiano.
 Compartilha tua experiência nos comentários.


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