Tudo me cansa

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Nem sempre a gente quer ajuda. Às vezes, a gente só quer sentar — e não precisar fingir que tá tudo bem.

Uma conversa entre dois desconhecidos que se encontram na exaustão. O texto acompanha a travessia silenciosa de quem está vivendo um cansaço emocional profundo, mas ainda não se entregou. Ainda senta. Ainda respira. Ainda tá.


(Cena: fim de tarde. Um banco de praça debaixo da sete copas. Uma pessoa sentada, olhar no chão. A outra passa devagar, mochila nas costas, lata d’água na mão. Algo faz parar.)

— Posso?
— Pode. O espaço é público.
— Mas cê tá com cara de quem quer ficar só.
— Não sei se quero ficar só… ou se só não quero ter que parecer bem.
— Ah… então tamo no mesmo tom.

(Senta. Silêncio. Um passarinho passa correndo pelo chão.)

— Tá foda, né?
— Tá.
— Dormi três horas. Não levantei porque quis, levantei porque tinha.
— Eu nem dormi. A privação de sono, o torpor, a irritação… são sintomas de exaustão mental que ninguém leva a sério até que o nosso corpo grite.

(Olhar se encontra pela primeira vez.)

— Tudo me cansa.
— Isso aí. Tudo. Até respirar.
Esse é o peso do cansaço emocional profundo: quando até o ar parece exigir demais da gente.
— Sabe o que é pior? Cansar até das coisas que eu gostava.
— Tipo música.
— Tipo gente.

(Gole d’água. A pessoa da mochila abre a garrafa, oferece sem falar. A outra recusa com a cabeça.)

— Às vezes eu penso que eu devia fazer alguma coisa.
— E às vezes penso que devia sumir.
— Mas aí a gente não some.
— Não. A gente senta. E espera passar.
— Não passa.
— Não. Mas às vezes assenta.

(Silêncio longo. As folhas da sete copas balançam, como se também tivessem memória.)

— Você trabalha?
— Trabalho. Mas não sei no que. Só tô lá.
— Eu também.
— E tu mora onde?
— Aqui perto. E tu?
— No final da ladeira.

(O primeiro sorriso. Raro. Curto.)

— É sempre assim, né? A gente começa o dia querendo que ele acabe.
— E termina querendo começar de outro jeito.
— Mas não começa.
— Não ainda.

(Silêncio. Mas menos pesado.)

— Meu nome é Léo.
— Eu sou Joana.
— Prazer.
— É… acho que foi.

(Ficam ali. Não amigos. Não desconhecidos. Só… humanos. O céu escurece devagar.)


Tudo me cansa

Espaço: A Mesa | Praça do CoHerência

(Cena: fim de tarde. Um banco de praça debaixo da sete copas. Uma pessoa sentada, olhar no chão. A outra passa devagar, mochila nas costas, lata d’água na mão. Algo faz parar.)

— Posso?
— Pode. É banco público.
— Mas cê tá com cara de quem quer ficar só.
— Não sei se quero ficar só… ou se só não quero ter que parecer bem.
— Ah… então tamo no mesmo tom.

(Senta. Silêncio. Um passarinho passa correndo pelo chão.)

— Tá foda, né?
— Tá.
— Dormi três horas. Não levantei porque quis, levantei porque tinha.
— Eu nem dormi.

(Olhar se encontra pela primeira vez.)

— Tudo me cansa.
— Isso aí. Tudo. Até respirar.
— Sabe o que é pior? Cansar até das coisas que eu gostava.
— Tipo música.
— Tipo gente.

(Gole d’água. A pessoa da mochila abre a garrafa, oferece sem falar. A outra recusa com a cabeça.)

— Às vezes eu penso que eu devia fazer alguma coisa.
— E às vezes penso que devia sumir.
— Mas aí a gente não some.
— Não. A gente senta. E espera passar.
— Não passa.
— Não. Mas às vezes assenta.

(Silêncio longo. As folhas da sete copas balançam, como se também tivessem memória.)

— Você trabalha?
— Trabalho. Mas não sei no que. Só tô lá.
— Eu também.
— E tu mora onde?
— Aqui perto. E tu?
— No final da ladeira.

(O primeiro sorriso. Raro. Curto.)

— É sempre assim, né? A gente começa o dia querendo que ele acabe.
— E termina querendo começar de outro jeito.
— Mas não começa.
— Não ainda.

(Silêncio. Mas menos pesado.)

— Meu nome é Léo.
— Eu sou Joana.
— Prazer.
— É… acho que foi.

(Ficam ali. Não amigos. Não desconhecidos. Só… humanos. O céu escurece devagar.)


Tudo me cansa

Espaço: A Mesa | Praça do CoHerência

(Cena: fim de tarde. Um banco de praça debaixo da sete copas. Uma pessoa sentada, olhar no chão. A outra passa devagar, mochila nas costas, lata d’água na mão. Algo faz parar.)

— Posso?
— Pode. É banco público.
— Mas cê tá com cara de quem quer ficar só.
— Não sei se quero ficar só… ou se só não quero ter que parecer bem.
— Ah… então tamo no mesmo tom.

(Senta. Silêncio. Um passarinho passa correndo pelo chão.)

— Tá foda, né?
— Tá.
— Dormi três horas. Não levantei porque quis, levantei porque tinha.
— Eu nem dormi.

(Olhar se encontra pela primeira vez.)

— Tudo me cansa.
— Isso aí. Tudo. Até respirar.
— Sabe o que é pior? Cansar até das coisas que eu gostava.
— Tipo música.
— Tipo gente.

(Gole d’água. A pessoa da mochila abre a garrafa, oferece sem falar. A outra recusa com a cabeça.)

— Às vezes eu penso que eu devia fazer alguma coisa.
— E às vezes penso que devia sumir.
— Mas aí a gente não some.
— Não. A gente senta. E espera passar.
— Não passa.
— Não. Mas às vezes assenta.

(Silêncio longo. As folhas da sete copas balançam, como se também tivessem memória.)

— Você trabalha?
— Trabalho. Mas não sei no que. Só tô lá.
— Eu também.
— E tu mora onde?
— Aqui perto. E tu?
— No final da ladeira.

(O primeiro sorriso. Raro. Curto.)

— É sempre assim, né? A gente começa o dia querendo que ele acabe.
— E termina querendo começar de outro jeito.
— Mas não começa.
— Não ainda.

(Silêncio. Mas menos pesado.)

— Meu nome é Léo.
— Eu sou Joana.
— Prazer.
— É… acho que foi.

(Ficam ali. Não amigos. Não desconhecidos. Só… humanos. O céu escurece devagar.)



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